O nó EDK é possivelmente, o nó que mais controvérsia tem gerado ao longo do tempo em diferentes círculos do mundo das actividades de montanha. A divergência de opiniões, principalmente dos dois lados do Atlântico, é tão grande, que surgem artigos tanto a defender como a deitar por terra este nó, que tem infelizmente, recebido críticas negativas sem fundamento.

Quero no entanto desde já afirmar, que o nó EDK é uma escolha perfeitamente válida, segura e eficiente de unir duas cordas para o rapel. Posso até arriscar dizer que é a melhor escolha para esse efeito, quando correctamente executado (para aqueles mais relutantes, existem variações deste nó que aumentam a sua segurança, algo que abordo mais abaixo).

Na secção Nós dos Módulos 1, 2 e 3 tens um resumo sobre este nó.

Nó EDK

Nó EDK

Um Nome Infeliz

Para nós, Lusófonos, e olhando apenas para o nome, o nó EDK à partida não nos diz grande coisa. Mas para todos aqueles que têm o inglês como sua língua materna, o nome EDK tem a particularidade de deixar qualquer escalador em alerta. Isto porque a sigla EDK significa European Death Knot…

Juntamente com o American Death Triangle e a Daisy Chain of Death, todos trazem à imaginação os piores cenários possíveis. No entanto, enquanto o nó EDK tem mais fama que proveito, o American Death Triangle e a Daisy Chain of Death têm tanto a fama como o proveito.

Apesar de em português ser também conhecido por nó simples duplo ou nó de aselha (outro nome infeliz?), é no inglês segundo a referência ABoK No. 1410 que encontramos um nome mais apropriado para o descrever – offset overhand bend. No entanto este nome é raramente adoptado porque é bem mais simples dizer apenas EDK. Em inglês é ainda chamado de flat overhand bend, offset water knot e overhand bend, mesmo que alguns destes nomes sejam considerados incorrectos.

Características

O nó EDK é usado para unir duas cordas estando por isso classificado no inglês na categoria Bend. A categoria é aliás, um dos factores que devemos ter em consideração com qualquer nó que usamos e a sua correcta aplicação. Em português incluímos todos os tipos de nós na mesma palavra, o que dá origem a alguma confusão. Apenas por curiosidade, ainda que este tema seja assunto para outro artigo, em inglês nós temos knots, bends e hitchs.

É um nó simples de aprender, de fazer e desfazer (mesmo depois de ter estado em carga) e de inspeccionar, sendo eficaz e seguro de usar sempre que este seja executado correctamente, um cuidado que devemos ter com qualquer nó. Devemos deixar os chicotes com um mínimo recomendado de 30cm e ajustar/pré-tensionar cada ponta da corda de forma independente. Tem a vantagem de ser um nó pouco volumoso e assimétrico o que significa que tem menos probabilidade de ficar preso em fendas e aresta no momento em que a corda é recolhida. É aconselhado que o nó fique encostado à ancoragem de forma a minimizar o sentido no qual este é puxado.

O “único argumento” usado contra o EDK é que este nó pode rolar sobre si próprio quando submetido a cargas ao ponto de se desfazer, levando a que as duas cordas se separem. Este aspecto, embora válido, é pouco provável de acontecer num cenário real de rapel onde o nó é submetido a cargas bem inferiores às realizadas em testes. No entanto chamo a atenção que isto só se verifica se o nó for correctamente executado. Caso não se cumpram os princípios de segurança na execução de qualquer nó, não apenas o EDK, não podemos esperar que tudo funcione como o previsto e que testes feitos em ambiente controlado nos dêem a segurança sobre os nossos erros.

Convém referir que existe uma associação errada, mesmo em publicações reconhecidas (aqui e aqui), entre o nó EDK e o nó de oito duplo (Flat Figure-8 Bend), este sim totalmente desaconselhado para unir duas cordas para o rapel. Dos acidentes associados ao nó EDK e segundo os registos disponíveis, três aconteceram precisamente com o nó de oito duplo. O quarto acidente foi realmente com o EDK mas podemos ler neste artigo – “moveu o nó cerca de doze centímetros para a frente, mas não o ajustou”, ou seja, má execução do nó…

Nó EDK

Nó EDK
Como Fazer

Alternativas

Apesar de promover e defender o uso do nó EDK, existem boas alternativas que apresentam tanto vantagens como desvantagens. Mais resistentes, são no entanto mais difíceis de fazer e desfazer. Pelo facto de serem simétricos, têm uma maior probabilidade de ficar presos em alguma aresta ou fenda. Os mais usuais são o nó duplo de pescador e o nó de oito costurado com back-ups (flemish bend/figure eight bend). Os chicotes de ambos precisam de ter entre 15cm a 20cm.

Se o objectivo é ter uma maior segurança mantendo as vantagens do EDK, as suas variáveis podem ser a escolha certa. Podes optar entre o EDK duplo, o EDK dobrado e o EDK com uma volta extra numa das cordas. As duas últimas opções são a minha escolha pessoal.

Conclusão

O nó EDK é sem dúvida uma boa solução quando o objectivo é unir duas cordas para o rapel. Mas como qualquer nó e técnica, este tem de ser bem executado para corresponder às nossas necessidades e propósito para o qual está a ser utilizado. Seja qual for o nó que utilizes e o contexto, os princípios são sempre os mesmos: escolha certa do nó para a função pretendida, perfeita execução do mesmo e inspeccionar se tudo está bem feito. Esta é uma daquelas situações em que todos devemos ser perfeccionistas. Se ainda tiveres dúvidas e fores como eu que gosta de saber os aspectos mais técnicos, consulta as referências que partilho abaixo, onde podes fazer uma leitura extensiva e minuciosa dos detalhes em como este nó foi testado.

Não te esqueças que nas actividades de montanha, especialmente nas que envolvem manobras de cordas, há sempre riscos associados. É da responsabilidade de cada um agir de forma a assegurar a sua segurança, bem como a de todos.

Boas aventuras!

About the Author: Pedro Soares
As montanhas foram desde cedo um refúgio para o Pedro, sendo regularmente mencionadas por ele como a sua casa. Pratica escalada, montanhismo e canyoning há mais de 25 anos, numa procura constante de novos desafios. É com a escalada clássica/alpina que mais se identifica. O seu profundo e contínuo desejo de aprender, aliado à sua paixão por ensinar, são duas das características que mais o distinguem. Concilia o seu trabalho de fotógrafo e designer com o de guia e formador.

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