As cintas, o que há não muitos anos chamava-se cordoletas (quem nunca ouvir falar do nó de cordoleta?…), são hoje muitas vezes mencionadas como anéis ou fitas de escalada. Mas as cintas incluem um grupo de equipamento que é mais variado do que à primeira vista parece. No inglês é possível compreender melhor essa diferenciação pelos termos que são usados: “slings”, “runners” e “tape”, sendo que esta pode ser “tubular webbing” ou “flat webbing”.

Mas no mundo da montanha, é possível ver que as cintas não se restringem apenas ao material de escalada propriamente dito. Desde correias de mochilas, tensores de tendas, sacos de compressão, e muito mais, podemos encontrar este componente feito de fibras têxteis sintéticas nos mais diversos equipamentos.

NOTA: Este artigo centra-se naquilo que conhecemos por anéis e fitas de escalada, cujo uso mais comum é como expresses alongáveis ou nas ancoragens (reuniões).

Edelrid Adjustable Belay Station Sling

Adjustable Belay
Station Sling
© Edelrid

Uma Parte da História

A história das cintas de escalada (webbing) está directamente ligada à invenção do Nylon pela DuPont (ainda que haja cintas ou fitas feitas com fibras naturais). Com o advento do Nylon e a sua crescente adopção no fabrico de equipamento de montanha, foi possível criar novos produtos ou começar a produzir outros que já existiam com este novo material.

Em Novembro de 1956 Jan e Herb Conn escreveram um artigo — The Versatile Runner — a lembrar e analisar as vantagens do uso de cintas para protecção em pontos naturais. Referem que — With all this new and excellent equipment (referindo-se a mosquetões, pitões e ao buril ou spit da altura), the modern rock climber is likely to overlook the simple but effective “runner”. This is no more than a loop of nylon sling web with a carabiner attached. — Hoje continuam a ser um “acessório” eficiente, polivalente e económico que pode ser usado nas mais variadas situações.

© Jan and Herb Conn

Jan and Herb Conn Article 1
Jan and Herb Conn Article 2

© Jan and Herb Conn

Tipos de Cintas

Embora possamos classificar as cintas por diferentes factores, a abordagem mais simples é agrupa-las em dois grandes grupos que têm a ver com o tipo, a forma como estão disponíveis e o material de que são feitas.

Especificamente em relação ao material, temos cintas fabricadas em Nylon (webbing, slings/runners) e cintas fabricadas em Dyneema, Dynex ou Spectra (slings/runners). Ambos os materiais são também encontrados em expresses de escalada, porta-materiais, estribos para escalada artificial e daisy-chains.

Cintas Tubulares ou Planas (Webbing Tape)
As cintas que fazem parte deste grupo caracterizam-se por três aspectos. São feitas em Nylon, podem ser compradas tanto a metro, como em anéis que vêm cosidos de fábrica, e podem ser tubulares ou planas. São super polivalentes e permitem criar anéis em qualquer medida que seja necessária. São muito usadas em escalada.

Cintas Cozidas (Slings)
As cintas que já vêm cosidas de fábrica tanto podem ser em Nylon como em Dyneema, Dynex ou Spectra. Estão disponíveis em diferentes comprimentos que normalmente podem ir desde os 15cm aos 240cm. Duas das medidas mais habituais são as de 60cm (shoulder length) e as de 120cm (2x shoulder length).

Certificações
Todo o material de montanha deve estar certificado. As cintas, fazendo parte tanto do EPI como do EPC não são uma excepção. As entidades responsáveis pela homologação deste tipo de equipamento são a UIAA e a European Norm (para todos os equipamentos comercializados dentro da União Europeia).

As certificações que deves procurar nas cintas a metro são as EN-565 e UIAA-103. Para as cintas em anel e que incluem as expresses, ou seja, todas as cintas que vêm cosidas de fábrica, as certificações são as EN-566 e UIAA-104.

Nas cintas tubulares é habitual vermos umas linhas no sentido longitudinal. Elas existem não para fim decorativos, mas para nos darem uma informação visual da resistência da respectiva cinta. Ver imagem abaixo da Edelrid X Tube 25mm.

  • Número de Linhas – 1 = Resistência Mínima – 5kN
  • Número de Linhas – 2 = Resistência Mínima – 10kN
  • Número de Linhas – 3 = Resistência Mínima – 15kN
  • Número de Linhas – 4 = Resistência Mínima – 20kN

Nylon vs Dyneema

Uma das questões que várias vezes me é colocada, é se devemos usar cintas de Nylon ou de Dyneema. Para responder a esta pergunta é importante saber as diferenças entre estes dois tipos de materiais e conhecer as vantagens e desvantagens de cada um deles.

Nylon – As cintas em Nylon podem ser compradas a metro ou em anéis pré-feitos de diversos comprimentos. Têm uma largura que normalmente varia entre os 16mm e os 20mm. São mais volumosas, mas com a vantagem de terem uma maior durabilidade. Existem nas mais variadas cores e em termos de valor, são mais económicas que as cintas feitas em Dyneema. Absorvem mais água que um cinta de Dyneema.

Apesar de não poderem ser consideradas dinâmicas, as cintas de Nylon têm um comportamento mais “elástico”, o que ajuda a absorver e minimizar o impacto de uma queda. A nível de execução de nós, estes funcionam melhor em cintas de Nylon. Outro aspecto a considerar é que as cintas de Nylon resistem muito melhor ao calor provocado pelo atrito, começando a derreter muito mais tarde que as cintas em Dyneema.

Dyneema – As cintas em Dyneema são compradas em anéis pré-feitos (existe cordino em Dyneema a metro). Algumas das medidas mais comuns são: 30cm, 60cm e 120cm. Têm uma largura que varia habitualmente entre os 8mm e os 14mm, o que faz com que sejam menos volumosas e apresentem uma relação peso/resistência superior às cintas de Nylon. Resistem também melhor à abrasão, ao corte e aos raios UV.

Têm a característica de serem maioritariamente brancas já que este material não pode ser tingido. A cor que vemos nas cintas de Dyneema deve-se ao um fio de Nylon que é usado durante o fabrico e que serve para ajudar a manter o anel unido e mais consistente. Não absorvem praticamente água nenhuma, mas em contrapartida derretem muito mais facilmente. Os nós não funcionam tão bem nas cintas de Dyneema.

Cinta em Nylon
© Black Diamond

Black Diamond Nylon Runner
Kong Dyneema Sling

Cinta em Dyneema
© Kong

Mas Afinal Qual Devo Escolher?

A resposta é simples, depende… São as características das tuas aventuras, as tuas necessidades e as vantagens e desvantagens de cada tipo de cinta/material que te vão ajudar a escolher a melhor opção.

Se procuras o menor investimento, precisas de uma cinta de precisamente 44,5cm (?!), consideras um melhor comportamento dinâmico em caso de queda ou andas atrás da cor que combina com o teu equipamento, então a melhor escolha são cintas em Nylon.

Se por outro lado procuras o menor peso e volume, melhor resistência à abrasão e ao corte, melhor comportamento em actividades que envolvam água, neve ou gelo e não contas ter de fazer muitos nós, então a melhor opção é usar cintas em Dyneema.

No meu caso tendo a usar ambas da seguinte forma:

  • Escalada – Normalmente uso as duas para fins distintos: cintas de Nylon para as ancoragens (reuniões) de forma a tirar partido do melhor comportamento dinâmico; cintas de Dyneema para expresses curtas e alongáveis pelo menor volume.
  • Canyoning – todas as cintas que levo comigo são de Dyneema já que absorvem menos água. Às vezes levo uma extra de Nylon na mochila. Redundância ou “velhos” hábitos ainda estou para descobrir ;).
  • Montanhismo – Apesar de usar ambas, quando envolve neve e/ou gelo a tendência é cintas de Dyneema. A razão é simples. Pelo facto de ser uma material que absorve menos água, a tendência para congelar é também menor.

Safety Chain
© Singing Rock

Singing Rock Safety Chain
Black Diamond Dogbone

Express Dogbone
© Black Diamond

Conclusão

As cintas (anéis ou fitas de escalada), independentemente do material, fazem parte do equipamento indispensável para desportos de montanha, resgate e trabalhos verticais de acesso por cordas. Continuam a ser uma peça essencial no nosso kit, é económica e super polivalente, podendo ser usada nas mais diversas situações, mesmo quando temos de abandonar algum material, como por exemplo para podermos fazer rapel.

Quando usares cinta vendida a metro, a qual para fazer um anel deve ser fechada com um nó, deves ter particular atenção ao nó que usas. O nó mais habitual é precisamente o que há alguns anos se chamava de nó de cordoleta, conhecido hoje como nó de fita ou de água, do inglês water knot. Deves também ter em conta que como com os nós nas cordas, estes retiram resistência às cintas e por isso deves ter o cuidado de os executares de forma irrepreensível.

Nunca te esqueças, a tua segurança é em primeiro lugar da tua responsabilidade e nenhum artigo ou vídeo pode substituir formação especializada. Pratica novas técnicas num ambiente de baixo risco antes de as usares em contexto real.

Se tens dúvidas sobre equipamento ou alguma técnica, podes deixar um comentário na secção abaixo, ou enviar um e-mail para academy [at] rokomondo.com.

Boas aventuras!

About the Author: Pedro Soares
As montanhas foram desde cedo um refúgio para o Pedro, sendo regularmente mencionadas por ele como a sua casa. Pratica escalada, montanhismo e canyoning há mais de 25 anos, numa procura constante de novos desafios. É com a escalada clássica/alpina que mais se identifica. O seu profundo e contínuo desejo de aprender, aliado à sua paixão por ensinar, são duas das características que mais o distinguem. Concilia o seu trabalho de fotógrafo e designer com o de guia e formador.

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