As cordas estiverem desde tempos antigos ligadas à história da Humanidade. Usadas para as mais diversas tarefas tais como a caça, a construção ou náutica, aparecem representadas de forma regular no Antigo Egipto. O uso de cordas pelo Homem é no entanto anterior a essa época. Grandes obras foram realizadas através do uso de cordas e polias.

Fabricadas de forma artesanal com fibras naturais como o cânhamo, linho, sisal, entre outras, viram, a partir de 1792 com a máquina “Cordelier” criada pelo inventor inglês Edmund Cartwright (24 de Abril de 1743 – 30 de Outubro de 1823), um grande avanço em termos de mecanização do processo de fabrico.

Nos desportos de montanha, as cordas fazem parte do sistema de segurança e por esse motivo, melhores cordas significaram também desafios e riscos mais ousados e por conseguinte conquistas mais memoráveis. São das peças de equipamento mais características da escalada ou do canyoning e um dos que mais impacto tem na segurança de todos.

The Leader Must Not Fall

Nos tempos do
“The leader must not fall”
© HeavyWhalley.MBE

Na história do fabrico de cordas de escalada (e não só) existem dois marcos que mudaram para sempre a realidade das cordas dos nossos dias.

O primeiro aconteceu na segunda metade dos anos 30 do século XX, com a invenção do Nylon baseada em estudos e tecnologias desenvolvidas pela DuPont. O segundo aconteceu em 1953 com a criação do fabrico de cordas pelo processo Kernmantle, no qual a corda é composta por duas partes – alma e camisa. As fibras interiores (alma) conferem a resistência à corda, enquanto as fibras exteriores (camisa) protegem o núcleo da abrasão durante o uso. Actualmente continua-se a usar o mesmo processo.

A partir deste momento o fabrico de cordas com fibras naturais para a escalada começou a ser abandonado. Em 1964 a Edelrid e a Mammut desenvolveram cordas dinâmicas capazes de suportar múltiplas quedas. Estas tornaram-se as percursoras das cordas dinâmicas de escalada dos nossos dias. Mesmo considerando as mais recentes inovações tecnológicas desenvolvidas pelos fabricantes, duma forma geral as cordas que usamos hoje são semelhantes a nível de construção, resistência e durabilidade.

Rapel em 1950

Rapel em 1950
© HeavyWhalley.MBE

Tipos de Cordas

As cordas podem ser classificadas em dois grandes grupos, as dinâmicas e as semi-estáticas e/ou estáticas. Dentro de cada grupo há uma série de características que devemos ter em conta para identificar cada tipo de corda e o fim ao qual se destina.

Cordas Dinâmicas
A grande característica das cordas dinâmicas é terem a capacidade de “esticar”, tendo por isso um comportamento dinâmico em termos de alongamento (que pode chegar aos 35%). A capacidade de minimizarem o factor de choque numa queda, é o que as torna a escolha ideal para um cenário de escalada.

O diâmetro deste tipo de cordas varia normalmente este os 8mm e os 10mm. É possível encontrar cordinos que embora tenham uma resistência inferior (têm utilizações distintas), têm as mesmas características dinâmicas que as cordas de escalada. Um desses casos é o Dynamic Prusik Cord da Blue Water Ropes.

Cordas Semi-Estáticas e/ou Estáticas
Ao contrário das cordas dinâmicas, as cordas semi-estáticas e/ou estáticas estão pensadas para uma utilização na qual não existe um risco de queda. A taxa de alongamento é inferior a 5% e têm um diâmetro que varia entre os 9mm e os 13mm. São maioritariamente usadas para subir em cordas fixas (e.g. Big Wall), canyoning, espeleologia, resgate e trabalhos verticais de acesso por cordas.

Os cordinos (diâmetro entre os 4mm e os 8mm) fazem parte na sua maioria deste tipo, embora como referido anteriormente, é possível encontrar cordinos com as características de uma corda dinâmica.

Certificações
Todo o material de montanha que usas nas tuas actividades deve ser certificado. As cordas não são uma excepção e deves até ter um cuidado acrescido em relação às normas que cada uma cumpre. As entidades responsáveis pela homologação deste equipamento são a UIAA e a European Norm (para todos os equipamentos comercializados dentro da União Europeia).

As certificações que deves procurar no caso das cordas são as EN-892, UIAA-101 (cordas dinâmicas) e EN-1891 › Tipo A e Tipo B, UIAA-107 (cordas semi-estáticas e estáticas). No caso dos cordinos as certificações são as EN-564 e UIAA-102.

Materiais
Hoje em dia a maioria das cordas é feita com fibras sintéticas (poliamidas) normalmente designadas apenas como Nylon. Uma corda é composta por duas partes, a camisa (exterior) e a alma (interior), ambas de fibras sintéticas mas com características bem distintas.

A camisa serve essencialmente para proteger a alma, enquanto esta confere a resistência à corda. Com o contínuo desenvolvimento de novos materiais e tecnologias, hoje é possível encontrar cordas que incorporam novos materiais tais como Teflon, Kevlar ou Technora.

Características
Pelo desgaste e stress a que as cordas são submetidas, os fabricantes começaram a desenvolver formas de melhorar as características das cordas e aumentar a resistência e a durabilidade das mesmas (em especial à abrasão em arestas).

Exemplos deste tipo de inovações são o caso da corda TOP GUN II 10.5mm da Beal com tecnologia UNICORE e a SWIFT PROTECT PRO DRY 8.9mm da Edelrid que inclui Aramid na camisa da corda. São também cada vez mais comuns os tratamentos Dry para que as cordas absorvam o mínimo de água possível. No canyoning podemos encontrar cordas que flutuam.

Como Escolher uma Corda

A escolha de uma corda depende de vários factores. Embora uns pareçam óbvios como o tipo de actividade ou o comprimento, outras como o diâmetro, tratamentos, número de quedas, etc, podem ser mais difíceis de considerar e ter uma opinião definida.

Tipo de Actividade – O tipo de actividade é o factor que mais condiciona a escolha do tipo de corda que precisamos. Não só em relação às suas características dinâmicas ou estáticas, como em relação ao diâmetro ou comprimento. Se vais escalar para a Meadinha (PNPG) possivelmente a melhor escolha é duas cordas duplas 9mm de 60m. Se treinas com os teus amigos no rocódromo da tua zona, uma corda simples 10mm de 30 ou 40m pode ser o suficiente.

Dinâmica ou Semi-Estática/Estática – Este é um dos factores mais simples a considerar. Isto porque se estamos a falar de escalada a escolha é óbvia, corda dinâmica. Se a actividade que temos em mente é o canyoning ou a espeleologia, precisamos de uma corda semi-estática ou estática. É importante referir que nunca deves escalar com uma corda semi-estática ou estática, pois as consequências de uma queda numa corda desse tipo são gravíssimas. No entanto numa escalada tipo Big Wall, são excelentes para içar equipamento e subir pela corda.

Simples, Dupla ou Gémea – As cordas dinâmicas estão normalmente divididas em três grupos que têm a ver com a certificação para a forma como podem/devem ser usadas. Estes três grupos são: cordas para serem usadas em simples, cordas para serem usadas em duplo (podem passar alternadamente pelas expresses ou ancoragens), cordas gémeas (usadas como as cordas em duplo mas que têm de passar pelas expresses ou ancoragens ao mesmo tempo obrigatoriamente). Normalmente em escalada desportiva são usadas cordas simples e em escalada clássica cordas duplas. Este factor influência também o diâmetro da corda, um aspecto abordado no ponto seguinte.

Tipo de Cordas

Existem cordas com tripla certificação (chamadas por vezes de híbridas) que podem ser usadas em simples e como corda dupla ou gémea. Um desses casos é a Opera da Beal com os seus impressionantes 8.5mm.

Diâmetro – O diâmetro está inteiramente ligado à resistência e ao peso da corda. É por isso muitas vezes um factor de compromisso entre o que queres carregar e a relação peso/resistência da corda. Duma forma generalizada podemos agrupar as mesmas da seguinte forma:

  • Corda Dinâmica Simples 9.5-10.5mm – Tipicamente usadas em escalada desportiva, rocódromos, escalar em top (top-rope) e Big Wall.
  • Corda Dinâmica Dupla 8.9-9.3mm – Normalmente usadas em vias de escalada de vários largos – escalada clássica – e escalada alpina.
  • Corda Dinâmica Gémea 7.5-8.5mm – Indicadas para vias alpinas com escalada mista (rocha e gelo) e escalada em gelo.
  • Corda Semi-Estática/Estática 9.0-10.5mm – Usadas em actividades onde é frequente fazer rapel e ascender numa corda (canyoning e espeleologia).
  • Corda Semi-Estática/Estática 10.5-13.0mm – Cordas mais indicadas para situações de resgate e trabalhos verticais de acesso por cordas.

Comprimento – O comprimento da corda está relacionado com a altura da via que vamos escalar ou ao rapel (canyoning e espeleologia) que vamos descer. A regra é simples, normalmente quando falamos de corda simples, precisamos pelo menos do dobro do comprimento da via ou o dobro do maior rapel. Com corda dupla ou gémea, as duas cordas juntas já perfazem o comprimento necessário. Deves ter em atenção que a execução de nós na corda retira comprimento útil à mesma. Como não é viável ter cordas com vários comprimentos, é comum optar-se por uma corda com um comprimento maior que sirva para várias situações. É habitual ver cordas com 50m ou 60m a serem usadas em vias ou rapeis de 15m.

Tratamento – As cordas são muitas vezes submetidas a tratamentos adicionais para melhorar as suas características e performance. Um dos melhores exemplos é o tratamento Dry que confere à corda a capacidade de absorver menos água. Este tratamento não é apenas algo a considerar em actividades de canyoning, mas também em actividades que envolvam neve ou gelo. Podemos também encontrar cordas com a marca “bicolour” que de forma clara identificam o meio da mesma através da mudança do padrão da camisa.

Quantidade de Quedas – Embora ninguém esteja a planear cair, as quedas fazem parte da escalada. Se estás a trabalhar num projecto de uma via e contas dar muitas quedas é importante que consideres este aspecto. É fácil consultar as especificações técnicas de cada fabricante/corda, para saberes o número de quedas que uma determinada corda suportou durante os testes de certificação, segundo a norma UIAA (mínimo 5 quedas).

Não te esqueças também que há diferentes tipos de quedas e que, mais importante que o número de quedas que uma corda suportou nos testes (o mundo real é bem diferente), é o factor de queda que poderá ter mais impacto no equipamento e em ti.

 

Outros factores como o deslizamento entre a camisa e a alma, a percentagem de alongamento (estático e dinâmico) e a taxa de encolhimento podem também ser considerados. No entanto na maioria das situações influenciam menos a nossa escolha que os factores mencionados acima.

NOTA: Não te esqueças que as cordas devem ser certificadas! Em baixo podes ver um exemplo da marcação de uma corda com a respectiva certificação.

Etiqueta Cordas

A mesma corda com cores diferentes.

Mammut Alpine Sender 9.0 - Blue
Mammut Alpine Sender 9.0 - Orange

Mammut Alpine Sender Dry Rope 9.0
© Mammut

Edelweiss Magnetic 11.0

Edelweiss
Magnetic 11.0
© Edelweiss

Cuidados e ter com as Cordas

Como com qualquer equipamento de montanha, as cordas requerem cuidados tanto durante a utilização como no transporte e armazenamento. A falta de cuidado com as cordas nas actividades é aliás, uma das realidades com a qual sou confrontado que mais me “incomoda”…

Utiliza a seguinte lista para dares atenção à forma como deves cuidar das tuas cordas:

  • Não pisar a corda (atenção aos crampons)
  • Não lavar a corda com *detergentes
  • Não deixar a corda exposta ao sol/raios UV
  • Evitar o contacto com produtos químicos
  • Evitar calor excessivo
  • Lavar a corda à *mão com água tépida
  • Secar a corda à sombra
  • Acondicionar a corda num local fresco e seco
  • Acondicionar a corda num saco ou dobrada e pendurada
  • Inspeccionar a corda de forma regular (danos internos e externos)
  • Retirar a corda de uso sempre que esta comprometa a nossa segurança

*Hoje em dia é possível comprar detergentes próprios para lavar cordas. Alguns fabricantes contemplam a possibilidade das cordas serem lavadas numa máquina de lavar roupa, mas sempre no programa delicado, com água fria e sem centrifugação. É importante verificar as recomendações do fabricante.

NOTA: Os cuidados a ter com o material de montanha, faz parte de uma série de artigos nos quais irei abordar em detalhe a forma como devemos usar, lavar, inspeccionar e guardar todo o equipamento. Aqui pretendo alertar apenas de forma resumida, para alguns desses cuidados.

Conclusão

As cordas fazem parte da cadeia de segurança em qualquer actividade de montanha que implique altura/altitude. Este factor, é por si só, motivo para que olhes para esta peça do teu equipamento como algo de tremenda importância. Deves ter em conta a escolha da corda mais adequada às tuas necessidades, a forma como a utilizas e como cuidas dela. Todos estes detalhes contribuem acima de tudo para a tua própria segurança. Cuida do teu equipamento e ele vai cuidar de ti.

Deves também ter em conta que normalmente utilizamos a corda com nós (encordoamento, ancoragens, etc.). Estes retiram resistência à corda (que varia dependendo do nó) e por isso deves ter o cuidado de os executares de forma irrepreensível.

DICA: Nem todas as cordas têm o meio marcado. Nesse caso recomendo que marques o meio da tua corda com um marcador próprio como o Rope Marker da Tendon.

Se tens dúvidas sobre equipamento ou alguma técnica, podes deixar um comentário na secção abaixo, ou enviar um e-mail para academy [at] rokomondo.com.

Boas aventuras!

About the Author: Pedro Soares
As montanhas foram desde cedo um refúgio para o Pedro, sendo regularmente mencionadas por ele como a sua casa. Pratica escalada, montanhismo e canyoning há mais de 25 anos, numa procura constante de novos desafios. É com a escalada clássica/alpina que mais se identifica. O seu profundo e contínuo desejo de aprender, aliado à sua paixão por ensinar, são duas das características que mais o distinguem. Concilia o seu trabalho de fotógrafo e designer com o de guia e formador.

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