O Oito, com a sua forma inconfundível, é um dos descensores que mais facilmente associamos aos desportos de montanha, nomeadamente à manobra do rapel. Foi inventado pelo Dr. Max Pfrimmer em 1943 e desde então tem sido usado em todo o mundo, mantendo a sua forma/função praticamente inalterada até ao nossos dias. Actualmente não é usado de forma tão absoluta na escalada e no montanhismo. Por seu lado, no canyoning continua a ser um dos descensores preferidos, tendo inclusive servido de base ao surgimento de descensores mais específicos para esta modalidade.

A sua simplicidade, tanto de design como de utilização, preço acessível, os seus quase 80 anos de história e a sua adopção massificada embora não exclusiva em manobras de rapel, fazem do Oito um dos descensores mais utilizados.

No entanto convém referir que apesar das várias vantagens que apresenta, o Oito têm também algumas desvantagens que devemos considerar: torce as cordas de forma significativa; não é das melhores soluções quando usamos duas cordas; *não permite mudar o método de descida escolhido inicialmente para outro durante o rapel.

*NOTA: Poderia ser considerado mudar de Oito em método Clássico para Vertaco ou Oito em método Rápido para Rápido Vertaco, mas em ambos os casos seria necessário abrir o mosquetão de seguro durante a descida, uma prática que não recomendo. Poderia ser considerado ainda mudar de Oito em método Rápido para Intermédio, mas considerando que o dispositivo e corda estão sobre tensão, fazer essa mudança não é propriamente fácil.

O Oito é um descensor versátil pois pode ser usado em variadas situações e de diversas formas. Os diferentes métodos de passar a corda conferem um maior ou menor atrito, sendo este o factor que ajuda a classificar e escolher o mais adequado para diferentes cenários. Os seis métodos que aqui partilho podem ser ordenados pelo atrito que proporcionam. Do que confere menor atrito para o que confere maior atrito a ordem é a seguinte:

• Método Rápido
• Método Cruzado
• Método Intermédio
• Método Clássico
• Método Vertaco
• Método Rápido Vertaco

A descida é controlada pela mão que exerce tensão na corda abaixo do oito. Métodos que conferem maior atrito requerem menos tensão na corda e métodos mais rápidos obrigam a uma maior tensão para controlar e manter a mesma velocidade de descida. Tendo em conta que com o Oito não podemos mudar o método durante o rapel, é importante escolher o mais adequado face às características do tipo de descida que temos pela frente antes de iniciar o rapel.

De referir que o método Rápido é mesmo rápido e que deve ser usado apenas por praticantes experientes. Fora do contexto de um rapel normal, este método é o indicado para o rapel guiado, auto-molinete e rapel com corda dupla.

Independentemente dos motivos, podem surgir situações durante o rapel nas quais temos de parar a descida. Nessas alturas devemos optar por bloquear o Oito, pois para além da questão da segurança, permite ter as mãos livres para executar outras funções. Os dois métodos que partilho permitem fazê-lo de forma rápida, eficiente e cobrem a maioria de modos de descida em rapel com este descensor.

Bloqueio em Método Clássico – Da mesma forma que fazer rapel em método Clássico ou normal é o mais frequente, o bloqueio do Oito em método Clássico é também o mais usado. Este sistema de bloqueio funciona tanto para o método Clássico como para os métodos Vertaco e Rápido Vertaco e é muito simples de ser executado (ver ilustração abaixo).

Bloqueio em Método Rápido – Este sistema de bloqueio funciona tanto para o método Rápido como para os métodos Cruzado e Intermédio. É igualmente simples de fazer sendo que consiste num nó de Mula feito no mosquetão do Oito, seguido de um nó Simples feito na corda do rapel e que serve como backup de segurança (ver ilustração abaixo).

Há também algumas manobras, especialmente no canyoning, nas quais precisamos de bloquear o Oito. Qualquer uma das opções que partilho abaixo permitem dar uma resposta a essa necessidade. No entanto convém referir, que da mesma forma que existem mais métodos de descer em rapel com este descensor, existem também mais opções para o bloquear.

Apesar de haver outras opções em termos de descensores (falarei em algumas alternativas noutro artigo), quando falamos do rapel, o Oito continua a ser uma referência mesmo tendo perdido a popularidade que outrora tinha. O seu baixo custo, simplicidade de utilização e polivalência tornam-no num preferido de muitos, especialmente no canyoning. Na escalada perdeu protagonismo para descensores com outras características, mas, continua ainda assim a fazer parte do equipamento de muitos.

Como com qualquer equipamento ou técnica, o importante é que saibas bem como funciona. Apesar de ser um descensor simples de usar, não está isento de erros provocados por uma má utilização. Deves ter em conta que o rapel é uma das manobras em montanha onde ocorrem mais acidentes, pelo que o teu cuidado deve ser redobrado. Um desses cuidados é que deves manter sempre a mão no lado da corda que funciona como travão (abaixo do oito), de forma a manter o rapel controlado.

Se tens dúvidas sobre equipamento ou alguma técnica, podes deixar um comentário na secção abaixo, ou enviar um e-mail para academy [at] rokomondo.com.

Boas aventuras!

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