A família dos nós auto-blocantes, embora considerados por muitos como não essenciais, são na minha modesta opinião, um dos conjuntos de nós que qualquer praticante de actividades de montanha devia saber, especialmente em escalada e canyoning. Por fazerem parte dum conjunto de manobras que envolvem a nossa própria segurança, devem ser incluídos nas competências que dominamos.

A lista deste tipo de nós não é muito grande, sendo que em termos práticos só precisamos de saber dois ou três. A escolha depende das vantagens e desvantagens de cada um, bem como de preferências pessoais. Neste artigo partilho sete desses nós que servem para qualquer situação com manobras de cordas que podemos viver em montanha.

Podes aprender mais nós nos Módulos de Escalada, Canyoning e Montanhismo, incluindo as características individuais de cada um mencionado neste artigo.

Características

O princípio de funcionamento de qualquer nó auto-blocante é o atrito. Através da fricção e consequente esmagamento da corda ou cordas sobre a qual o nó é executado, é possível parar um rapel, ascender numa corda e efectuar muitas outras técnicas e manobras incluindo de emergência. Uma característica comum entre estes nós é, quanto mais voltas dermos na corda principal, mais atrito será gerado e consequentemente mais o nó irá prender.

A forma mais fácil de fazer um nó auto-blocante é com um cordino de 5-7mm de diâmetro unido com o nó duplo de pescador de forma a formar um anel. É recomendado que o diâmetro do cordino seja 60% a 80% do diâmetro da corda principal. O comprimento habitual do anel é de 60cm, sendo que é necessário aproximadamente 1,5 metros de cordino para conseguir um anel dessa dimensão.

Hoje em dia podemos optar por anéis de cordino fechados de fábrica como é o caso do Jammy da Beal, ou um cordino aberto com loops nas pontas como o VT Prusik da BlueWater, este, essencial para fazer o Prusik Assimétrico ou o Valdotain Tresse.

Aplicações

Os nós auto-blocantes são usados em diversas manobras tanto em desportos de montanha, como em trabalhos verticais com cordas e situações de resgate. São uma forma simples e barata de solucionarmos diversos problemas sem recorrer e descensores/ascensores mecânicos. Das muitas funções que estes nós podem desempenhar, partilho aquelas que são mais comuns.

Backup ao Rapel – Este é possivelmente a utilização mais frequente de um nó auto-blocante num cenário de escalada. Factores como ser leve, barato e eficiente são vantagens inegáveis quando temos de gerir tanto o peso como a carteira. De todos os nós partilhados aqui, possivelmente o Autoblock e o Machard são os mais indicados para esta função, ainda que todos possam ser utilizados.

Resgate – Uma situação de resgate pode ser tanto um simples descensor bloqueado (e.g. oito com nó Boca de Lobo), um nó na corda, prestar auxílio a alguém que esteja a fazer um rapel, entre outras. Nestas situações um nó auto-blocante (ou mais do que um), pode servir para resolver qualquer um destes problemas. Se tivesse de escolher apenas um para este fim, escolheria o Valdotain Tresse.

Ascender numa Corda – Embora hajam ascensores super eficientes para este fim, quando prevemos ter de subir numa corda apenas pontualmente, pode não justificar o investimento que é necessário neste tipo de equipamento. Mais uma vez um nó auto-blocante oferece uma solução simples e barata. Dos nós auto-blocantes aqui partilhados, o nó Bachmann é dos mais eficientes para o efeito.

Bloqueio em Sistema de Polias – Quando montamos um sistema de polias e não tendo nenhuma roldana com bloqueador incorporado ou bloqueador independente, podemos resolver o problema utilizando um nó auto-blocante. Esta solução permite montar um sistema anti-retorno completamente seguro. O nó Prusik e Prusik Assimétrico são dos mais indicados e polivalentes.

NOTA: Devemos ter em conta algumas questões ao utilizar nós auto-blocantes:

  • Nunca devemos estar dependentes apenas de um nó auto-blocante (considerar um backup).
  • O nó que usamos para formar o anel deve ficar fora das voltas dadas na corda principal.
  • O número mínimo de voltas na corda principal deve ser 3 a 4 dependendo do cordino.
  • Avaliar se o nó auto-blocante precisa de funcionar em apenas um ou nos dois sentidos.
  • Ter atenção com cordas molhadas ou geladas que reduzem o atrito dos nós.
  • Verificar regularmente o estado dos cordinos e substituir sempre que necessário.
Nó Prusik

Nó Prusik
Como Fazer

Nó Bachmann

Nó Bachmann
Como Fazer

Nó Autoblock

Nó Autoblock
Como Fazer

Nó Valdotain Tresse

Nó Valdotain Tresse
Como Fazer

Alternativas

Os bloqueadores mecânicos, sejam os que funcionam por esmagamento ou dentados, vieram duma forma geral oferecer uma alternativa aos tradicionais nós auto-blocantes. A relação vantagens/preço é discutível, mas a verdade é que nem o preço de um “modesto” Tibloc pode ser comparado ao custo de 1,5 metros de cordino.

No entanto, bloqueadores/ascensores como o Shunt, Basic, RollNLock, Duck, Lift, entre muitos outros, têm as suas vantagens e em várias situações são uma melhor opção. Implicam sem dúvida um maior investimento, mas que pode ser rentabilizado pelo uso que lhe damos ao longo do tempo.

Nó Mariposa

As grandes vias de montanha, sempre foram a minha paixão. Lá para a segunda metade dos anos 90, quando comecei a dedicar-me mais a escalar vias clássicas, sempre que fazia rapel (cordas duplas), perguntava-me se não haveria uma forma de fazer um nó auto-blocante, mas que trabalhasse com as cordas independentes de forma a manter as mesmas separadas.

Ao tentar responder a essa questão criei o nó Mariposa. A ideia do nome veio da simetria do nó que na altura associei a uma borboleta ou mariposa (nó de Borboleta não podia ser por razões óbvias por isso ficou Mariposa).

Indicado para ser usado preferencialmente acima do descensor (e.g. ATC) e unicamente com corda dupla. É bi-direccional embora funcione melhor no sentido descendente (o propósito com o qual foi criado). Tem vantagens em relação ao Prusik, Machard ou Autoblock? Depende da utilização, mas com corda dupla é uma boa alternativa e mantém as cordas separadas.

Nó Mariposa

Nó Auto-Blocante
Mariposa

Conclusão

Os nós auto-blocantes (pelo menos alguns deles), continuam a fazer parte dos nós que todos devíamos aprender. Apesar de não precisarmos de os saber a todos, devemos dominar dois ou três, pois estes nós são fundamentais em situações que envolvem a nossa própria segurança.

Pessoalmente não passo sem eles e tanto na escalada como no canyoning ando sempre com um conjunto de dois. Seja para o backup do rapel, para executar algumas técnicas (incluindo resgate), ou como redundância a algum bloqueador mecânico que leve comigo, um VT Prusik e um anel de cordino fazem sempre parte do meu equipamento.

Todos os nós devem ser ajustados depois de executados e verificados em relação à sua eficiência. Não te esqueças das limitações de cada nó e de testar se tudo está a funcionar devidamente.

Se tens dúvidas sobre nós, equipamentos ou alguma técnica, podes deixar um comentário na secção abaixo, ou enviar um e-mail para academy [at] rokomondo.com.

Boas aventuras!

About the Author: Pedro Soares
As montanhas foram desde cedo um refúgio para o Pedro, sendo regularmente mencionadas por ele como a sua casa. Pratica escalada, montanhismo e canyoning há mais de 25 anos, numa procura constante de novos desafios. É com a escalada clássica/alpina que mais se identifica. O seu profundo e contínuo desejo de aprender, aliado à sua paixão por ensinar, são duas das características que mais o distinguem. Concilia o seu trabalho de fotógrafo e designer com o de guia e formador.

Artigos Relacionados

  • As cintas, o que há não muitos anos chamava-se cordoletas (quem nunca ouvir falar [...]

    8.1 min read
  • O arnés, a par das cordas de escalada, é considerado um dos equipamentos mais [...]

    11.8 min read

Pesquisa outros temas

Comentários

Artigos Recentes

  • Published On: 23/11/2022Categories: Canyoning, Escalada, Montanhismo11.8 min read

    O arnés, a par das cordas de escalada, é considerado um dos equipamentos mais básicos para quem pratica actividades de montanha. No entanto, o arnês [...]

  • Published On: 16/11/2022Categories: Montanhismo8.7 min read

    As Vias Ferrata têm uma longa e interessante história. Mas tem sido nos últimos anos que se tem assistido a um aumento significativo de [...]

  • Published On: 10/11/2022Categories: Canyoning, Escalada, Montanhismo12.1 min read

    As cordas estiverem desde tempos antigos ligadas à história da Humanidade. Usadas para as mais diversas tarefas tais como a caça, a construção ou [...]