Nos desportos de montanha, quando abordamos determinadas manobras, existem muitas vezes várias formas de responder a uma necessidade. Termos mais do que uma solução para resolver um problema, torna-nos mais competentes e adaptáveis. Seja pelas condições, seja pelo equipamento que temos à disposição, saber mais do que uma técnica para um mesmo fim é sempre uma mais valia.

O canyoning não é excepção e é rico em situações em que podemos usar diferentes técnicas para alcançar um mesmo resultado. O nó Lorenzi e o Oito à Italiana são dois desses casos. Apesar de ambos poderem ser usados em outros cenários, irei abordar estas técnicas pela perspectiva de quando temos de tensionar uma corda como no caso de um rapel guiado.

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O nó Lorenzi é uma das formas mais simples de tensionar uma corda num rapel guiado (mas não só). É um nó auto-blocante, simples e rápido de ser executado, que requer um mínimo de equipamento que normalmente já temos connosco, neste caso dois mosquetões de seguro HMS (é “obrigatório” que seja este tipo de mosquetões).

É um nó bastante estável mas que ainda assim e visando a questão da segurança, é recomendado que tenha um backup. Normalmente utilizo outro mosquetão de seguro com um nó estático, mas também funciona um nó de fecho. Tem a particularidade de ceder e voltar a bloquear quando é submetido a uma tensão significativa. Esta característica é vista como uma vantagem pois evita cargas excessivas sobre o equipamento que poderiam levar à falha do sistema montado.

O Oito à Italiana é um sistema que foi adaptado para a função de tensionar uma corda para um rapel guiado. Funciona muito bem, embora com algumas reservas (já lá vamos), sendo também muito fácil e rápido de fazer. Requer pouco material, é auto-blocante e relativamente simples de desfazer depois de estar sujeito a uma grande tensão.

Apesar de ser um sistema eficaz, requer alguns cuidados. Quando deixa de ser exercida carga no sistema, o oito pode rodar perdendo automaticamente a função de auto-bloqueio. Este problema pode também acontecer quando o sistema está sobre demasiada tensão, o que faz com que perca a estabilidade. Uma forma de reduzir a possibilidade do oito rodar é usar o Huit da Petzl que pela sua forma ajuda a prevenir (mas não evitar) essa ocorrência. O fecho do Oito à Italiana é obrigatório.

Comparar duas técnicas, ambas indicadas para tensionar uma corda num canyoning não é tarefa fácil, mesmo porque há muitas variáveis a ter em conta. A diferença está mais nos pequenos detalhes e na vantagem que uma poderá ter sobre a outra em algumas situações. Ainda assim há algumas características que podemos salientar e que nos poderão ajudar a escolher a “melhor” opção.

Equipamento Necessário – Ambos os sistemas precisam de pouco material que normalmente já temos connosco. No nó Lorenzi, dois mosquetões de seguro HMS mais um extra para o backup (pode ser usado um nó de fecho o que confere uma ligeira vantagem pelo uso de menos material). No Oito à Italiana, um mosquetão de seguro HMS e um Oito para montar o sistema e um mosquetão de seguro para o fecho que é obrigatório.

Estabilidade – Mesmo considerando a perfeita execução de ambos os sistemas, o nó Lorenzi é um sistema mais estável. O facto de haver a possibilidade do oito rodar no Oito à Italiana provocando a falha do mesmo, é um detalhe que requer uma maior atenção. É verdade que o fecho do Oito à Italiana (algo obrigatório), confere maior segurança a este sistema, mas não impede que o oito possa na mesma rodar com as respectivas desvantagens já mencionadas.

Bloqueio/Desbloqueio – Ambos os sistemas bloqueiam bem, embora o nó Lorenzi apresente mais atrito (o que pode ser visto como uma desvantagem no momento de tensionar a corda). Desbloquear é relativamente fácil em ambos, ainda que o Oito à Italiana tenha uma ligeira vantagem, mesmo porque permite fazê-lo de forma mais controlada.

Polivalência – Neste artigo procuro destacar a utilização do nó Lorenzi e do Oito à Italiana, num cenário em que temos de tensionar uma corda, como no caso dum rapel guiado ou duma tirolesa. Mas ambos os sistemas podem ser usados em outras manobras e técnicas, mesmo fora do contexto do canyoning. Sem querer abordar as possíveis utilizações de ambos (um assunto para outro artigo), o Oito à Italiana destaca-se pelo facto de ser uma das possíveis técnicas usadas para ascender numa corda.

Nas imagens abaixo podes ver dumas formas de ajustar/tensionar a corda usando um sistema 3:1. No caso do nó Lorenzi utilizei o Shunt com um mosquetão oval, ambos da Petzl. No Oito à Italiana utilizei um RollClip A com um Tibloc, também da Petzl. Podes também usar uma roldana com bloqueador ou um Prusik com um mosquetão. Diferentes técnicas para um mesmo fim.

NOTA: A distância entre o sistema 3:1 e o nó Lorenzi ou o Oito à Italiana é apenas por questões de enquadramento. Na prática deve ser maior para ser mais fácil tensionar e tirar partido da vantagem mecânica.

Tanto o nó Lorenzi como o Oito à Italiana são duas técnicas excelentes para o propósito com que abordei este artigo, tensionar uma corda. Ambos são polivalentes e podem inclusive ser usados em outras situações. Com a mesma atenção dada a ambas as técnicas, a escolha acaba por recair no equipamento que temos à disposição e nas vantagens que podemos ver num sistema em relação ao outro.

Seja qual for a técnica que preferes ou que usas mais frequentemente, é importante que a domines, tendo sempre o cuidado de verificar se tudo está montado devidamente. A segurança deve ser um dos pontos fortes dos sistemas que montas. No meu caso uso as duas técnicas, tendo a escolha mais a ver com as características e exigências de cada situação em particular.

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Boas aventuras!

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