Os mosquetões fazem parte do equipamento indispensável para a prática de diversos desportos de montanha. É na escalada, em 1912, que estes passam a ser usados para ligar a corda aos pitões usados na época. No entanto, foi a partir de mosquetões usados por bombeiros que em 1910, Otto Herzog (1888-1964), um escalador e inventor alemão, decidiu testar estes “elos” de ligação em algumas vias de escalada. Deste então os mosquetões foram adoptados não só na escalada, como em muitas outras actividades de montanha, trabalhos em altura, resgate, etc.

Hoje em dia existem diversos tipos de mosquetões que na sua maioria são feitos de alumínio 7075. Há no entanto mosquetões feitos noutras materiais como o aço. Por esse motivo, é importante conhecer e saber escolher os mais adequados às nossas necessidades.

No fim deste artigo encontras um link para poderes fazer o download de uma ficha técnica dos vários tipos de mosquetões.

Anatomia de um Mosquetão

Independentemente do tipo de mosquetões, a estrutura é mais ou menos semelhante a todos eles (ver ilustração abaixo). Um mosquetão pode ser dividido nas seguintes partes:

  • Corpo do Mosquetão
  • Gatilho
  • Eixo do Gatilho
  • Nariz
  • Sistema de Bloqueio (para mosquetões de segurança)
  • Eixo Longitudinal
  • Eixo Transversal

Presente no corpo, na secção chamada de “espinha”, está a indicação da resistência do mosquetão. Podemos consultar a resistência no eixo longitudinal tanto do mosquetão fechado como do mosquetão aberto e a resistência no eixo transversal. É também no corpo que podemos encontrar as certificações CE e UIAA (EN 12275:1998, UIAA 121:2008, EN 362:2004). Alguns mosquetões estão ainda em conformidade com a norma NFPA.

Anatomia de um Mosquetão

Anatomia de um Mosquetão

Tipos de Mosquetões

Os mosquetões podem ser classificados pelo formato, tipo de fecho (com ou sem segurança), tamanho, peso e resistência. À parte da classificação por tipo, podemos ainda agrupá-los nas seguintes categorias:

  • Tipo B – Mosquetões para uso geral.
  • Tipo T – Mosquetões com gatilho curvo usado em particular nas expresses.
  • Tipo X – Mosquetões ovais disponíveis com e sem bloqueio de segurança.
  • Tipo H – Mosquetões em formato de pêra com sistema de bloqueio e segurança.
  • Tipo K – Mosquetões usados em Via Ferrata com uma maior abertura.
  • Tipo Q – Elos rápidos usados duma forma geral em fixações permanentes.
Tipos de Mosquetões

Tipos de
Mosquetões

Formato

O formato permite distinguir duma forma simples os diferentes tipos de mosquetões e a utilização mais adequada para cada um deles. São três os formatos mais frequentes:

D – Simétricos ou Assimétricos (Tipos B e T) – De longe os mosquetões presentes em maior quantidade em qualquer kit de equipamento. São excelentes para muitas utilizações, tendo como pontos fortes a sua relação peso/resistência e a grande abertura do gatilho.
Ovais (Tipo X) – Podem ser encontrados com e sem sistema de bloqueio de segurança. É o formato original dos mosquetões. Devido à sua curva simétrica são a escolha ideal para usar com roldanas/polias e outros dispositivos com necessidades semelhantes.
Pêra (Tipo H ou HMS) – Normalmente com sistema de bloqueio de segurança. É a escolha perfeita para usar com o nó dinâmico (daí o seu nome original em alemão – “Halbmastwurf sicherung”). Pode ser usado como mosquetão “mestre” em diversas situações.

Tipo de Fecho (Gatilho)

Os mosquetões podem ser agrupados em mosquetões sem sistema de bloqueio de segurança ou simples, e mosquetões com sistema de bloqueio de segurança. Estas duas categorias podem ser divididas em três sub-categorias cada uma.

Mosquetões sem Sistema de Bloqueio de Segurança – Estes podem ter o gatilho direito, curvo ou de arame (wireframe). Um dos usos frequentes dos mosquetões com o gatilho direito é nas expresses no lado que “clipa” às plaquetes. Os mosquetões de gatilho curvo são por seu lado a escolha ideal para o lado das expresses que recebe a corda. Finalmente os mosquetões com o gatilho “Wireframe” têm como grande vantagem a redução do peso em relação aos outros tipos de gatilho.

Mosquetões com Sistema de Bloqueio de Segurança – O sistema de bloqueio de segurança destes mosquetões pode ser manual com rosca, automático convencional (de mola), ou automático não convencional como é o caso do Rocklock Magnetron da Black Diamond e o Axiom Slider da Edelrid. Os mosquetões com fecho manual de rosca são os mais comuns embora existam outras soluções como o espectacular VLAD com duplo gatilho da Grivel.

Associado ao tipo de gatilho, está o design do nariz do mosquetão. Neste aspecto existem dois tipos, os Keylock e os não Keylock. Os de tipo Keylock têm a vantagem de não ficarem presos a outro equipamento no momento em que vamos “clipar” ou retirar o mosquetão. O sistema não Keylock é hoje em dia usado quase exclusivamente nos mosquetões com gatilho Wireframe. Com este sistema o nariz do mosquetão corre o risco de ficar preso. Algumas marcas desenvolveram soluções para evitar que tal aconteça com é o caso do PLUME EVO WIRE K3EW da Grivel.

Nariz Keylock

Nariz Keylock
Nariz Não-Keylock

Nariz Não-Keylock

Tamanho, Resistência e Peso

O tamanho, o peso e a resistência são factores que estão inteiramente ligados. Os três acabam por influenciar as nossas escolhas pois contribuem para o volume e o peso que carregamos, assim como a utilização/carga a que os vamos sujeitar.

Tamanho – Os mosquetões maiores são mais fáceis de manusear especialmente com luvas. Funcionam melhor como mestres pois têm uma maior abertura e capacidade de suportarem/segurarem mais equipamento. Por seu lado os mosquetões mais pequenos são mais leves, ocupam menos espaço e quando carregamos muito material, todas as gramas contam.

Peso – Seja qual for a actividade, quanto menos peso carregarmos melhor. Devemos ter em mente que 10 gramas de diferença entre mosquetões não parece realmente muito. No entanto, temos de considerar a realidade de carregar 20, 30 ou mais num conjunto de escalada por exemplo. Sem juntar o peso das cordas, entaladores e restante equipamento. Nem sempre os mosquetões mais leves são também a melhor opção pelo que convém ter atenção a este aspecto.

Resistência – Os mosquetões são classificados a nível de resistência em duas direcções: a resistência no eixo longitudinal do mosquetão tanto fechado como aberto e a resistência no eixo transversal. É importante que esta informação esteja presente no corpo do mosquetão, bem como as normas pelas quais cada um foi aprovado. Quando usados correctamente, dificilmente vamos levar os mosquetões aos limites da sua resistência. Por este motivo, este factor é muitas vezes o último que consideramos no momento de escolhermos novos mosquetões.

Conclusão

Os mosquetões são um dos elos da cadeia de segurança em muitos desportos de montanha. A sua escolha, bem como a sua correcta utilização, são detalhes aos quais devemos dar a maior importância. Avalia bem as necessidades da actividade a que te propões, para que as tuas escolhas sejam feitas de forma conscenciosa e responsável. Deves ter presente que o melhor equipamento é sempre aquele que cumpre o objectivo para o qual foi criado numa determinada situação.

Não te esqueças, compra sempre equipamento certificado, um cuidado a ter especialmente com aquele que tem um impacto directo na tua segurança. Lê sempre as instruções do fabricante e cria o habito de inspeccionares o teu equipamento de forma regular. O uso correcto do material adequado às tuas aventuras, contribuiu directamente para o sucesso das mesmas.

Se tens dúvidas sobre equipamentos ou alguma técnica, podes deixar um comentário na secção abaixo, ou enviar um e-mail para academy [at] rokomondo.com.

Boas aventuras!

About the Author: Pedro Soares
As montanhas foram desde cedo um refúgio para o Pedro, sendo regularmente mencionadas por ele como a sua casa. Pratica escalada, montanhismo e canyoning há mais de 25 anos, numa procura constante de novos desafios. É com a escalada clássica/alpina que mais se identifica. O seu profundo e contínuo desejo de aprender, aliado à sua paixão por ensinar, são duas das características que mais o distinguem. Concilia o seu trabalho de fotógrafo e designer com o de guia e formador.

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