Canyoning
Fundamentos e Técnicas

O canyoning na forma como o vemos hoje, é relativamente recente em comparação com a escalada e o montanhismo. Nos últimos anos tem registado um grande crescimento em termos de praticantes, e é uma das modalidades de desporto de natureza que mais tem evoluído em termos de técnicas e materiais. Como qualquer actividade de montanha, o canyoning é influenciado pelo meio envolvente, sendo que neste caso temos ainda a considerar o elemento aquático que condiciona e muito a sua prática.

O módulo 2 aborda as bases essenciais do canyoning, tanto os fundamentos como as técnicas necessárias para desfrutares desta actividade em segurança. No entanto, e como no Módulo da Escalada e no Módulo do Montanhismo, a informação que aqui partilhamos, não deve ser considerada suficiente para te considerares autónomo. Aconselhamos sempre que nas tuas actividades de montanha sejas acompanhado/a por um guia, ou que faças formação teórica e prática na Rokomondo ou noutra entidade formadora.

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“IT’S ALWAYS FURTHER THAN IT LOOKS. IT’S ALWAYS TALLER THAN IT LOOKS. AND IT’S ALWAYS HARDER THAN IT LOOKS.”
— REINHOLD MESSNER

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Equipamento

Devido ao ambiente particular no qual o canyoning é praticado, é necessário a utilização de equipamento específico para garantir a nossa segurança e a eficiência com que nos movimentamos ao longo do percurso. Convém referir que uma parte significativa deste equipamento foi herdado e adaptado de outros desportos, nomeadamente da escalada e da espeleologia.

Sobre que equipamento usar, devemos considerar que pelas particularidades individuais de cada canyoning,  bem como pelas condições meteorológicas, clima local e época do ano, o equipamento necessário pode variar significativamente tanto entre canyonings, como no mesmo canyoning mas em diferentes condições/épocas.

Por norma, o equipamento de canyoning divide-se em duas categorias, podendo ser estas divididas em duas sub-categorias. A primeira diz respeito ao equipamento de protecção individual (EPI), ou seja, o equipamento individual de cada praticante, podendo ser este de segurança e de não segurança. A segunda categoria refere-se ao equipamento de protecção colectiva (EPC), de segurança e de não segurança, que incluem os equipamentos utilizados por todos.

DE SEGURANÇA

  • Apito de emergência
  • Arnês de canyoning
  • Bloqueador (Shunt, Tibloc, etc.)
  • Capacete (recomendamos que seja de escalada)
  • Descensor (oito)
  • Longe assimétrica
  • Mosquetões de seguro HMS

DE NÃO SEGURANÇA

  • Bidão estanque
  • Calçado específico
  • Faca de resgate
  • Fato de neoprene
  • Frontal (lanterna)
  • Máscara de mergulho
  • Meia de neoprene
  • Mochila de canyoning
  • Luvas de neoprene

NOTA: A lista de equipamento que aqui sugerimos serve apenas como base e deve ser avaliada/complementada mediante as condições do canyoning e a vertente do mesmo, seja esta desportiva, comercial ou de exploração.

DE SEGURANÇA

  • Corda de trabalho
  • Corda de socorro (numa mochila independente)
  • Expresses com mosquetões de seguro
  • Mosquetões de seguro HMS

DE NÃO SEGURANÇA

  • Bidão estanque
  • Bloqueadores (Basic e Croll)
  • Cintas e cordinos
  • Descensor de reserva
  • Frontal extra
  • Kit de equipagem
  • Kit de primeiros-socorros
  • Mochila de canyoning
  • Protecção de corda
  • Roldanas (com e sem bloqueio)
  • Telemóvel (bateria a 100%)

NOTA: A lista de equipamento que aqui sugerimos serve apenas como base e deve ser avaliada/complementada mediante as condições do canyoning e a vertente do mesmo, seja esta desportiva, comercial ou de exploração.

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Técnicas de Progressão

A forma como nos movemos numa descida de canyoning, designada por Técnicas de Progressão, pode ser dividida em três categorias: progressão sem corda, progressão com corda e progressão em águas bravas, que neste caso pode ser inclusiva às duas categorias anteriores.

Sermos capazes de interpretar um percurso de canyoning e garantir uma progressão eficiente, requer planeamento, experiência, habilidades motoras e estratégias de forma a garantir a nossa segurança e o sucesso da descida. Dominar diferentes Técnicas de Progressão permite também uma melhor gestão de risco e capacidade de adaptação a diferentes cenários.

CAMINHADA
A caminhada é parte integrante de qualquer canyoning, seja na aproximação/regresso, seja na chamada zona de progressão dentro do próprio rio/linha de água. Na realidade e independentemente do tipo de canyoning, a maior parte do tempo/percurso é feito a andar. Mas apesar de ser algo que assumimos por natureza que sabemos fazer, é na caminhada que mais facilmente não damos atenção aos pormenores que contribuem para a nossa segurança e onde, como consequência surgem mais acidentes, que apesar de simples podem condicionar uma actividade.

Devemos também considerar que à medida que avançamos para canyonings mais técnicos e exigentes, os desafios dentro da caminhada aumentam consideravelmente (e consequentemente os perigos). É importante que tenhamos uma real percepção da nossa condição física, resistência e à vontade em nos movimentarmos em terreno escorregadio e acidentado. Termos a capacidade de antecipar eventuais riscos no percurso a seguir, é uma das melhores estratégias para gerirmos o esforço e prevenir acidentes.

DESTREPES
Os destrepes, muito habituais para quem pratica escalada, são uma técnica que permite vencer desníveis (ressaltos) normalmente de pouca altura. Apesar de estarem associados habitualmente às Técnicas de Progressão Sem Corda, é comum encontrar destrepes em que é necessário o uso de cordas, seja pela maior altura, seja por ser uma manobra exposta e de risco acrescido (superfícies escorregadias, água a correr, etc.). É por isso importante dominar esta técnica pois as consequências dum destrepe mal executado podem ser drásticas.

Como nas outras Técnicas de Progressão, a capacidade de nos movermos de forma segura e eficiente, é primordial, contribuindo para isso competências como a agilidade, o equilíbrio e coordenação motora, todas elas aspectos que podem ser adquiridos e aperfeiçoados.

Os destrepes podem ser classificados em duas grandes categorias tendo em conta as características do desnível a vencer e o tipo de técnica que utilizamos. Técnicas de chaminé quando temos duas paredes de cada lado, e técnicas de escalada “face climbing” quando destrepamos apenas numa superfície rochosa.

ESCALADA
Embora num contexto de canyoning não falemos propriamente de escalada com pés de gato e magnésio, a verdade é que frequentemente encontramos secções ao longo de um percurso onde é necessário escalar. Nos graus V6 e V7, é possível encontrar passagens de até 6a/A2 de dificuldade e por esse motivo, devemos ter aptidões físicas mínimas para ultrapassar esses desafios.

Em alguns locais é possível encontrar cordas fixas em zonas que implicam escalar, acontecendo o mesmo com alguns destrepes. Ainda assim, um bom planeamento e uma correcta leitura do croqui é essencial para evitar surpresas e acautelar material adicional que seja necessário.

SALTOS
Os saltos estão invariavelmente no topo das técnicas mais apreciadas e divertidas que podem ser realizadas num canyoning. A capacidade de testar os nossos limites e provocar emoções fortes, em muito contribuir para esse lugar de destaque. Ainda assim nem todas as pessoas se sentem à vontade para saltar independentemente da altura, razão pela qual os saltos não serem obrigatórios e haver sempre uma alternativa.

No entanto, com a diversão vem também um risco acrescido já que estatisticamente esta técnica é a mais perigosa de todas. Existem muitas variáveis que devem ser analisadas, bem como um conjunto de princípios básicos de segurança que devem ser respeitados e que incluem as quatro fases de um salto: a avaliação, a chamada ou projecção, o “voo” e a recepção.

Princípios Básicos de Segurança

  • Análise constante das características do salto.
  • Avaliar a altura do salto.
  • Verificar a zona de recepção aquática e confirmar se é segura.
  • Verificar a profundidade da área de recepção.
  • Verificar a trajectória do salto.
  • Sempre que necessário providenciar uma alternativa.
  • Ter atenção a equipamento que possa estar “solto” que provoque desequilíbrio.

Dos diferentes tipos de saltos, seja qual for a altura, o mais recomendado e seguro é o de entrar na água primeiro com os pés. Nesta técnica os braços podem assumir várias posições mas as mais habituais são: encostados ao longo do corpo em V e cruzados sobre o peito. As pernas podem estar ligeiramente flectidas. Durante o voo é fundamental manter o controlo e equilibro, algo que com experiência pode ser em certa medida corrigido com o auxílio dos braços. Após o salto o praticante deve comunicar se está bem ou não, um princípio que se aplica a todas as técnicas e manobras realizadas dentro do canyoning.

Para quem não domina a técnica é aconselhável praticar saltos mais pequenos de 2 a 3 metros de altura para aperfeiçoar todas as fases de um salto.

TOBOGÃS
Os tobogãs são uma das formas mais divertidas de vencer desníveis dentro de um canyoning. Estes escorregas naturais, criam certamente uma ligação emocional com as nossas memórias de infância quando descíamos escorregas e corrimões. Os tobogãs podem apresentar variadas formas e comprimentos, sendo que a altura, o caudal e o ângulo dos mesmos (inclinação), aumentam consideravelmente a velocidade e os riscos.

Por esse motivo há aspectos a ter em consideração antes de realizar um tobogã. Estes fazem parte dos princípios básicos de segurança e das quatro fases que a realização de um tobogã deve obedecer: avaliação, aproximação, tobogã e recepção.

Princípios Básicos de Segurança

  • Análise constante das características do tobogã.
  • A superfície deve ser lisa e livre de arestas.
  • Verificar a zona de recepção aquática e confirmar se é segura.
  • Verificar a trajectória do tobogã.
  • Sempre que necessário providenciar uma alternativa.
  • Nunca fazer o tobogã com a mochila nas costas.
  • Ter atenção a equipamento que possa estar “solto” no arnês.

É também muito importante a técnica para a realização dum tobogã, neste caso, a posição corporal. Devemo-nos deitar na superfície rochosa de barriga para cima, pés para a frente e com os braços estendidos em V junto ao corpo. As pernas devem estar ligeiramente flectidas e os joelhos juntos.

NATAÇÃO
Podemos e devemos considerar que em qualquer desporto de natureza que envolva o meio aquático, a capacidade de saber nadar é fundamental. No entanto, na vertente comercial ou em canyonings cuja dificuldade seja baixa e cuja componente aquática seja pontual, podemos assumir que essa habilidade não é obrigatória. Na vertente desportiva e de exploração, um praticante autónomo deve saber nadar bem, em especial quando perante secções de águas bravas, um tema muito específico que é abordado detalhadamente mais abaixo.

Convém salientar que pelo facto de sermos bons nadadores, iremos abordar com mais confiança percursos aquáticos e técnicas de progressão que envolvam água, das quais os saltos são um exemplo.

MERGULHO
O mergulho deve ser visto na maioria das situações como uma técnica auxiliar, pois é usado essencialmente para verificar lagoas e a profundidade das mesmas. É também necessário para a recuperação de objectos que tenham caído na água, algo que acontece não raras vezes. Há ainda assim, no contexto das Técnicas de Progressão, uma situação dentro de um percurso de canyoning em que o mergulho é essencial, a passagem de sifões. Embora não seja um obstáculo muito frequente, as dificuldades particulares que os sifões apresentam obrigam a um domínio completo desta técnica para garantir o sucesso da passagem e consequentemente a nossa segurança.

Fora do contexto mais prático, existe também a parte lúdica do mergulho pois permite observar, fotografar e filmar espectaculares cenários subaquáticos.

Em qualquer uma das situações não nos devemos esquecer que apesar de ser uma técnica “simples”, mergulhar com um fato de neoprene é bastante mais difícil pois ganhamos mais flutuabilidade. Descer na vertical com o auxílio dos braços é a melhor forma de o conseguirmos. Para desfrutarmos ao máximo do mergulho, é recomendado o uso de máscara pois permite uma visão perfeita debaixo de água.

RAPEL
O rapel é seguramente a técnica de progressão com corda mais usada num canyoning. Podermos inclusive afirmar que não existe canyoning sem rapel (não que todos os canyonings tenham rapeis mas que o rapel fez parte das técnicas que ajudaram a desenvolver este desporto de natureza). Mas apesar de ser uma manobra tão frequente, continua a haver uma falta de rigor a atenção ao domínio desta técnica e aos riscos que envolve. Infelizmente esta é uma realidade que é verificada também na escalada e no montanhismo. Por esse motivo reforçamos a importância de dominar por completo esta técnica e respectivos sistemas montados para o efeito.

Obs.: Os sistemas com corda ou sistemas de rapel são abordados em detalhe na secção abaixo, assim como os métodos de descer com descensor.

O rapel consiste na utilização de cordas para superar os desníveis mais significativos que encontramos ao longo dum percurso de canyoning. Para esse efeito são utilizados vários sistemas que podem ser classificados através de diferentes critérios. Defendemos que não existe um sistema melhor do que outro mas que, são as condições específicas de cada situação que devem ajudar na escolha do mais adequado a utilizar. Como referido acima, este tema é desenvolvido na secção seguinte. Ainda assim não podemos deixar de referir aqui algumas noções e recomendações.

Os sistemas de rapel podem ser estáticos (fixos) ou dinâmicos (alongáveis) sendo que podem depois ser divididos em diferente categorias. No entanto, o mais importante a reter é que na maioria das situações a melhor solução é montar um sistema dinâmico, pois a grande vantagem que apresenta face aos sistemas estáticos é a capacidade de fazer face a complicações que surjam (ex.: roçamentos da corda) e inclusive situações de resgate. Convém também referir que o comprimento da corda de trabalho deve ser igual ao dobro do maior rapel. Muito importante é criar um sistema de verificação para assegurar que todo o sistema está devidamente montado e que vai funcionar de acordo com o previsto. Este é um habito que deve ser transversal em todas as manobras no canyoning.

RAPEL GUIADO
Se tivéssemos que descrever de uma forma simples o que é o rapel guiado, a resposta seria certamente a junção de um rapel com um slide pois basicamente é nisso que consiste este sistema de progressão. A sua função principal é mudar através de um desvio, a linha do rapel e assim levar o praticante a um local de recepção específico. Esta é a técnica usada mais frequentemente quando o objectivo é evitar:

  • Movimentos de água perigosos
  • Rapeis escorregadios e perigosos
  • Roçamentos de cordas

Pode também ser usado para prestar auxílio a alguém ferido e que seja incapaz de descer de forma autónoma. Para praticantes com menos experiência, é também uma boa alternativa pois permite uma descida mais controlada e para fora da zona de perigo. Para estas situações contribui o facto de que num rapel guiado o praticante pode descer por si só ou pode ser descido.

Um rapel guiado é basicamente composto por uma corda tensionada entre o ponto de ancoragem superior (onde é montado o rapel) e um ponto de ancoragem inferior. Esta corda serve de guia e afasta o praticante de perigos que tenham sido identificados, sendo o rapel feito na corda principal. Apesar de haver opiniões divergentes, recomendamos que seja o lado curto da longe a ser usado para ligar o praticante à corda tensionada. As principais razões para esta escolha são: o praticante fica mais perto da corda guia e mais distante de potenciais perigos; é mais fácil mudar da ancoragem para o rapel guiado; possibilidade de agarrar a corda guia para ajudar na descida ou chegar à parte final do rapel. Recomendamos também que o modo de rapel usado no descensor seja o modo rápido pois há um aumento significativo de atrito ao colocarmos o mosquetão da longe na corda tensionada o que dificulta a descida.

O rapel guiado pode ser montado apenas com uma corda desde que esta cubra tanto a distância da corda tensionada como a distância do rapel propriamente dito. É também recomendável que o sistema seja dinâmico (alongável) para permitir desbloquear algum imprevisto que possa surgir, e recuperável para permitir que o último a descer possa usar também o sistema montado.

CORRIMÃO
Um corrimão é um sistema de progressão montado na horizontal que permite ao praticante auto-segurar-se com a longe, aumentando assim a sua segurança. É frequentemente usado quando a ancoragem para o rapel é de difícil acesso, ou em zonas expostas que apresentam riscos acrescidos (superfície escorregadia, verticalidade do percurso, etc.). Existem canyonings em que podemos encontrar corrimões fixos, sendo que nestas situações devemos ter a responsabilidade de verificar estes sistemas permanentes, pois nem sempre estão nas melhores condições (é necessário substituí-los com alguma regularidade). No entanto a situação mais usual é que o corrimão seja montado pelo praticante.

Os corrimões podem ser simples ou recuperáveis tendo no mínimo dois pontos, um no inicio e outro no fim. Há ainda assim corrimões com pontos intermédios. Recomendamos que seja sempre montado um sistema recuperável pois permite aumentar a dinâmica e a rapidez da progressão. Um corrimão pode ser montado com a corda principal sendo que neste caso precisamos de assegurar dois aspectos: que a corda tem comprimento suficiente para o corrimão e o rapel; que o corrimão é montado com a ponta da corda que está no fundo da mochila.

A progressão num corrimão é bastante simples. Esta deve ser feita com ambos os mosquetões na corda com o gatilho/rosca virado para nós de forma a ser mais fácil verificar se estão fechados, e para prevenir incidentes com a rosca do mosquetão a bater acidentalmente contra a rocha. O lado curto da longe deve ser colocado nas duas cordas (corrimão recuperável), e o lado mais comprido apenas na corda de baixo. No caso dum corrimão com pontos intermédios, ao chegarmos a um ponto intermédio, devemos mudar um mosquetão de cada vez num processo idêntico ao usado numa Via Ferrata.

SLIDE
O slide é uma das formas mais divertidas e rápidas de vencer um desnível, que no caso do canyoning normalmente está associado a uma queda de água. Convém no entanto salientar que o slide é uma técnica usada para desviar o praticante de algum perigo que poderá ser por exemplo, um movimento de água perigoso. Partilha com o rapel guiado e a tirolesa essa função e também algumas das técnicas de progressão com corda, nomeadamente os sistemas para tensionar a corda.

No slide é essencial que exista um sistema de travão, podendo ser este feito com a corda no final da descida, ou pela própria água na zona de recepção quando esta é numa lagoa, o que aumenta substancialmente a emoção. A descida é feita colocando o lado curto da longe (ou ambos) na corda tensionada (no slide, em que a intenção não é que o praticante auxilie a descida com as mãos, pode ser usado apenas o lado comprido, mas considerando que um slide num canyoning nunca está muito tensionado, o facto de usarmos o lado curto aumenta a eficácia da descida/desvio).

Existe alguma confusão entre o slide e a tirolesa, como são descritos e por conseguinte identificados. A forma mais simples de perceber a diferença entre ambos é que num slide a descida é feita do ponto A ao ponto B sempre a deslizar; numa tirolesa a descida/travessia é feita do ponto A ao ponto B mas apenas no inicio a progressão é assegurada pela inclinação da corda. Depois disso a progressão é feita com a ajuda dos braços.

TIROLESA
A tirolesa partilha com o slide os mesmos objectivos (desviar o praticante de algum perigo) e as mesmas técnicas para tensionar a corda (nó Lorenzi ou nó de oito à italiana com fecho). Difere no entanto deste pelo facto de que a progressão/descida é feita total ou parcialmente com o auxílio das mãos na corda tensionada. A inclinação duma tirolesa é também normalmente inferior à de um slide, podendo mesmo ser nula. Em termos de técnica para descer, é importante que o lado da longe utilizado seja o curto (ou ambos) pois neste caso o praticante precisa de chegar à corda tensionada com as mãos para poder progredir.

A tirolesa é também usada em situações de resgate mas esse é um tópico abordado noutro módulo.

A progressão em águas bravas é por si só uma técnica, ou conjunto de técnicas (que podem ser comuns à progressão sem e com corda), que estão mais relacionadas com o volume de água que um rio apresenta num determinado momento, do que propriamente com as características do canyoning, ainda que este tenha também uma grande influência na forma como “aceita” um aumento significativo do caudal e nos movimentos de água que daí podem ser criados.

Devido ao aumento exponencial do risco na prática de canyoning com um caudal elevado, uma avaliação das condições do rio e análise das previsões meteorológicas é um princípio que deve ser inerente a qualquer praticante deste desporto de natureza. Devemos também considerar que o caudal elevado num rio não está unicamente ligado à estação das chuvas ou à época que compreende as estações do ano Outono, Inverno e Primavera. Este pode ser causado por chuvas fortes ou pela abertura de barragens para descargas (às vezes não planeadas…).

Ao abordarmos este tema de forma resumida, o objectivo que procuramos é que qualquer praticante tenha a capacidade de identificar os riscos e movimentos de água característicos dum caudal elevado e as técnicas de natação necessárias para os ultrapassar. É importante salientar que o domínio das técnicas de progressão em águas bravas requer formação, treino e experiência, componentes que apenas podemos adquirir na prática.

MOVIMENTOS DE ÁGUA
Os movimentos de água são influenciados por diversos factores dos quais destacamos o caudal, os tipos de água (que são determinados pelo volume de oxigenação da água), a meteorologia e a morfologia do terreno da secção do canyoning que estamos a atravessar. Com um conhecimento e análise destes factores, podemos identificar os principais movimentos de água que são:

  • Corrente
  • Contra-corrente
  • Drosage
  • Encorbatamento
  • Lavadora
  • Remoinho
  • Retorno
  • Sifão

Na maioria destas situações devemos ter o cuidado de evitar os movimentos de água perigosos. Quando tal não é possível, podemos fazer uso da técnica “mochila âncora” ou das técnicas de natação. Acima de tudo devemos ter bem presente que muitas destas situações só podem ser ultrapassadas com trabalho de equipa, sendo necessário para o efeito um ou mais elementos. Neste caso entramos na componente de resgate onde podem ser usadas várias técnicas como o lançamento de um cabo de resgate, montagem de uma linha de vida, a utilização de uma sonda ou uma “isca viva”, um tema aprofundado no módulo de resgate.

TÉCNICAS DE NATAÇÃO
Quando falamos de progressão em águas bravas, torna-se evidente que saber nadar é fundamental. As situações nas quais essa competência é necessária são várias, mas ao abordarmos movimentos de água perigosos podemos afirmar que mais do que uma competência, pode ser uma questão de sobrevivência. Basicamente existem duas técnicas de natação, defensiva e activa. Em ambas as técnicas é importante evitar ter material solto no arnês que pode facilmente ficar preso debaixo de água e comprometer a nossa segurança.

  • Técnica de Natação Defensiva

Esta técnica também chamada de “Flooting” é a posição de natação que assumimos ao flutuar na corrente. Permite diminuir e evitar riscos presentes na água tais como rochas. É também a técnica ideal para conservar energia e transportar a nossa mochila à medida que progredimos na corrente. A posição correcta é estar deitado de costas sobre a corrente, braços ao longo do corpo com os pés para jusante e as pernas ligeiramente flectidas de forma a ser mais fácil amortecer qualquer impacto. Devemos conseguir ver para onde estamos a ir mas sem levantar demasiado a cabeça.

  • Técnica de Natação Activa

A natação activa é normalmente usada para atravessar curtas distâncias onde a corrente é mais forte, seja por exemplo para ir de uma margem para a outra, seja para sair de um movimento de água perigoso. Este técnica consiste em nadar no estilo Crawl com a cabeça fora de água dando maior ênfase ao movimento dos braços em detrimento do movimento das pernas.

NOTA: Convém salientar que em qualquer situação em que precisamos de usar uma das técnicas de progressão em águas bravas, devemos sempre tentar antecipar o nosso próximo passo, reduzindo assim os imprevistos.

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Sistemas de Rapel

Os Sistemas de Rapel fazem parte das Técnicas de Progressão e incluem o rapel, rapel guiado, corrimão, slide e tirolesa. Neste secção iremos abordar exclusivamente os sistemas para montar um rapel assim como diferentes métodos de descida, pois pela sua importância e pelo impacto que têm na nossa segurança, merecem uma atenção e cuidados especiais.

Os sistemas de rapel podem ser agrupados em diferentes categorias, sendo que essas categorias são classificadas através de 4 parâmetros, os quais vão ser determinantes para escolher qual o melhor sistema a utilizar perante uma determinada situação.

CATEGORIAS DE SISTEMAS DE RAPEL

  • Simples-Estático
  • Simples-Dinâmico
  • Gémeo-Isolado-Estático
  • Gémeo-Isolado-Dinâmico
  • Gémeo-Composto-Estático
  • Gémeo-Composto-Dinâmico
  • Duplo-Estático
  • Duplo-Dinâmico
  • Dobrado-Estático
  • Dobrado-Dinâmico

Obs: Nem todos os sistemas de rapel são recuperáveis pelo que devem ser convertidos pelo último praticante – LAPAR – a descer, de preferência quem inicialmente montou o sistema, o chamado “Anchor Manager”.

PARÂMETROS DE CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE RAPEL

  • Simplicidade de execução
  • Possibilidade de resgate – RFR (Rig for Rescue)
  • Eficiência de descida
  • Gestão de roçamentos

DESCRIÇÃO
O sistema EMO é um sistema de rapel simples e eficiente que apresenta uma grande vantagem em relação ao sistema Oito Batente, permite dar corda sem retirar o mosquetão de backup que está argola pequena do oito. No entanto pelo seu maior volume, é recomendado que seja convertido num Oito Batente ou nó de bloqueio pelo último praticante a descer, uma manobra adicional que acaba por ser uma desvantagem.

Como no sistema Oito Batente, o descensor oito deve estar sempre seguro à ancoragem (seja através de um mosquetão de seguro ou de uma express com mosquetões de seguro), para prevenir acidentes caso o praticante use a corda de recuperação em vez da corda de rapel. Uma das práticas que recomendamos, é que a corda de recuperação esteja sempre arrumada na mochila de forma a prevenir esse tipo de acidentes (um hábito a colocar em prática sempre que usamos apenas uma parte da corda).

Em termos de categoria/classificação, é um sistema simples-dinâmico.

VANTAGENS
— Simples de executar.
— Permite resgate indirecto.
— Eficiente para situações simples de roçamentos de corda.

DESVANTAGENS
— Não é dos sistemas mais eficientes pois só permite a descida de uma pessoa de cada vez, um aspecto a ter em conta quando o grupo é grande.
— Precisa de ser “fechado”, sendo o procedimento mais recomendado o uso de uma express dissipadora com dois mosquetões de seguro que unem a argola pequena do oito ao segundo ponto da ancoragem (backup).
— A corda de recuperação fica por cima da ancoragem, podendo provocar um maior desgaste na mesma e dificultar a sua recuperação.

ENGLISH NAME
EMO (Eight + Mule + Overhand).

EMO

DESCRIÇÃO
O nó Dinâmico é presença constante em actividades de montanha e o canyoning não é excepção. É um dos nós mais utilizados para montar sistemas de rapel. No entanto, o sistema que conhecemos como Nó Dinâmico é na realidade composto por três nós: o nó Dinâmico (que através do atrito permite dar corda), o nó de Mula (que permite bloquear ou libertar o nó Dinâmico) e o nó simples (que funciona como backup ou segurança ao nó de Mula).

É recomendado quando o caudal é elevado, para ajustar o comprimento da corda ou quando é necessário descer a pessoa que está a fazer o rapel. Apesar de ser um sistema que permite a gestão de roçamentos, não é dos mais eficientes neste aspecto já que funciona com a corda em modo simples. Em termos de categoria/classificação, é um sistema simples-dinâmico.

VANTAGENS
— Simples de executar.
— Permite resgate indirecto.
— Eficiente para situações simples de roçamentos de corda.

DESVANTAGENS
— Não é dos sistemas mais eficientes pois só permite a descida de uma pessoa de cada vez, um aspecto a ter em conta quando o grupo é grande.
— Utiliza apenas um ponto da ancoragem, algo que pode ser contornado com o uso de uma express com mosquetões de seguro a ligar os dois pontos.
— A última pessoa a descer precisa de converter o sistema com um nó batente/bloqueio de forma a torná-lo recuperável.

ENGLISH NAME
MMO – Munter Mule Overhand.

MMO

DESCRIÇÃO
O nó Stone é um nó de bloqueio ou de batente que pode ser comparado com o nó Estático, embora em relação a este apresente uma grande vantagem, é mais fácil de desfazer depois de estar submetido a uma grande carga. Tem também a particularidade de ser muito polivalente pois existem versões deste nó que permitem montar não só um simples-estático, como um sistema de rapel gémeo-isolado-estático. É também uma excelente opção quando precisamos de montar um sistema de apoio a um salto ou destrepe.

Aqui iremos ensinar-te a versão mais simples, uma excelente opção quando estamos perante um grupo com experiência num cenário de canyoning cujas condições não apresentam desafios acrescidos (caudal elevado, movimentos de água perigosos, etc.).

Obs.: Embora na maioria das situações devamos usar sistemas de rapel dinâmicos (alongáveis), sejam eles simples ou não, acreditamos que em determinadas circunstâncias, um sistema simples-estático apresenta vantagens. Esta posição vai também ao encontro do que defendemos, não existe um sistema melhor do que o outro. São as particularidades de cada situação e a competência de cada praticante que contribuem para a escolha do sistema de rapel mais adequado.

VANTAGENS
— Simples e rápido de executar sendo necessário apenas um mosquetão de seguro.
— Permite auto-resgate e subir na corda.
— Não precisa de ser convertido para recuperar a corda.

DESVANTAGENS
— Não é um sistema muito eficiente pois só permite a descida de uma pessoa de cada vez, um aspecto a ter em conta quando o grupo é grande.
— Não é o sistema ideal para cenários de resgate, já que não permite o resgate indirecto nem o resgate directo (excepção feita caso usemos o nó Valdostano).
— Não é o sistema ideal quando há a necessidade de gerir roçamentos de corda, já que é um sistema que trabalho com corda simples.

ENGLISH NAME
Stone Knot, Stein Knot, Marlinspike Hitch.

Stone Simples

DESCRIÇÃO
O sistema Oito Batente é, juntamente com os sistemas EMO e Oito em Método de Canyoning, um dos mais usados e preferidos na prática de canyoning. Apesar de poder ser executado com ligeiras diferenças, é ensinado por várias escolas da modalidade e considerado um método clássico de sistemas de rapel. A sua maior vantagem em relação aos sistemas Oito em Método de Canyoning e com o nó Dinâmico, é que não precisa de ser convertido para o último praticante descer.

No entanto não está livre de reservas (ver abaixo). O maior alerta que devemos fazer, é que o oito deve estar sempre seguro à ancoragem de forma a prevenir que o praticante use a corda de recuperação em vez da corda de rapel (um cuidado a ter igualmente com os outros sistemas). Uma das práticas que recomendamos, é que a corda de recuperação esteja sempre arrumada na mochila de forma a prevenir acidentes (um hábito a colocar em prática sempre que apenas uma parte da corda é usada).

Em termos de categoria/classificação, é um sistema simples-dinâmico.

VANTAGENS
— Simples de executar.
— Permite resgate indirecto.
— Eficiente para situações simples de roçamentos de corda.

DESVANTAGENS
— Não é dos sistemas mais eficientes pois só permite a descida de uma pessoa de cada vez, um aspecto a ter em conta quando o grupo é grande.
— Precisa de ser “fechado”, sendo o procedimento mais recomendado o uso de uma express com dois mosquetões de seguro que unem a argola pequena do oito ao segundo ponto da ancoragem (backup).
— A corda de recuperação fica por cima da ancoragem, podendo provocar um maior desgaste na mesma e dificultar a sua recuperação.

ENGLISH NAME
8 Block, Releasable-8 Block.

Oito Batente

DESCRIÇÃO
O sistema Oito em Método de Canyoning, consiste basicamente no sistema EMO mas em que o oito é fixado à ancoragem através dum mosquetão de seguro e a corda passa pelo oito em modo rápido ou de canyoning. É recomendado quando é necessário descer o primeiro praticante, em cenários em que por exemplo, não é possível ver o final do rapel/cascata. Permite ajustar o comprimento exacto da corda. Com praticantes com pouca experiência ou inseguros em determinadas manobras de rapel, pode também usar-se este sistema para os descer com maior segurança.

Em termos de categoria/classificação, é um sistema simples-dinâmico.

Obs.: Há profissionais que defendem que numa situação em que temos de descer um praticante, o descensor deve permanecer ligado ao ponto central do arnês do guia, como num cenário de escalada. Apesar deste ponto dividir opiniões, ambas as situações são válidas e eficientes. Possivelmente para aqueles que têm um background em escalada, deixar o descensor no arnês será algo mais familiar. Convêm no entanto referir que ambos os métodos têm de ser convertidos para um nó batente pelo último a descer para que a corda seja recuperável, o que implica sempre dois processos.

VANTAGENS
— Relativamente simples de executar.
— Permite resgate indirecto.
— Eficiente para situações simples de roçamentos de corda.

DESVANTAGENS
— Não é dos sistemas mais eficientes pois só permite a descida de uma pessoa de cada vez, um aspecto a ter em conta quando o grupo é grande.
— A última pessoa a descer precisa de converter o sistema com um nó batente de forma a torná-lo recuperável.

ENGLISH NAME
This is a variation of the tradicional EMO where the 8 is connected to the anchor point through a carabiner, and the rope is placed in fast mode.

Oito em Método de Canyoning

Módulo 2 - Canyoning, Fundamentos e Técnicas - Img7

Métodos de Descida

Os métodos de descida em rapel envolvem sempre um descensor, um nó ou um outro sistema que irá aplicar atrito na corda e desse forma permitir que o praticante efectue uma descida controlada. Na maioria das situações, é esse atrito que vai classificar o método ou modo de descida que estamos a efectuar.

No entanto, os métodos de descida em rapel, são também influenciados pelo descensor que usamos. Embora haja descensores específicos para canyoning que apresentam inúmeras vantagens, partilhamos aqui apenas soluções que utilizam o tradicional oito. A sua simplicidade, polivalência e custo reduzido, tornam-no num dos descensores mais utilizados em canyoning e um que faz parte da maioria das correntes de ensino.

NOTA: Independentemente do descensor que utilizamos, devemos aplicar sempre os mesmos princípios de segurança: estar auto-seguro ao ponto de ancoragem principal com a longe antes de colocarmos a corda no descensor; colocar de forma correcta e no método pretendido a corda de rapel no descensor; fechar o mosquetão de seguro; ajustar e verificar se o sistema está correcto; finalmente retirar a longe e iniciar a descida.

Podes ler mais sobre métodos de descida e bloqueio com o oito neste link.

DESCRIÇÃO
O método do oito clássico é o sistema usado com mais frequência não só pelo atrito considerável que oferece, sendo por isso mais seguro para praticantes com menos experiência, como também por ser um método usado tanto na escalada como no montanhismo. Por esse motivo a maioria das pessoas com alguma história em montanha está familiarizado com ele.

Método Clássico ou Modo Lento

DESCRIÇÃO
O modo intermédio é semelhante ao modo rápido variando deste unicamente pela passagem da corda do rapel por trás da argola pequena do oito dentro do mosquetão de seguro do descensor. É para muitos o melhor compromisso entre controlo e velocidade.

Modo Intermédio

DESCRIÇÃO
O modo rápido, também chamado de método de canyoning, é dos sistemas que aqui apresentamos que permite uma descida mais rápida. Requer um bom domínio do rapel pois o atrito que oferece é bastante reduzido. Por esse motivo é aconselhado a praticantes já com bastante experiência. É o método indicado para o rapel guiado, auto-molinete e descida em corda dupla.

Modo Rápido

DESCRIÇÃO
O método Vertaco é muito semelhante ao oito clássico, sendo a única diferença a passagem da corda de rapel pelo mosquetão de seguro do descensor. Além de um maior atrito apresenta como grande vantagem, a capacidade de eliminar a ocorrência acidental do nó boca de lobo.

Método Vertaco

Nós

Como já referido no Módulo de Escalada, os nós são um dos temas que abordamos na Rokomondo Academy que é transversal a qualquer módulo, seja pela sua importância, seja pela sua aplicação generalizada em diferentes áreas. É um tema “simples” mas extenso e que muitas vezes falha pela falta da devida atenção que lhe deve ser dado. Diferentes formas de executá-los e diferentes nomes pelos quais são conhecidos, contribuem também para criar alguma confusão à volta de alguns nós.

No canyoning, escalada ou montanhismo, o número de nós básicos que devemos saber não é muito grande. Aqui iremos abordar aqueles que consideramos serem essenciais. Fica no entanto com a indicação que deves dominar cada um deles ao ponto de os conseguires fazer e utilizar nas mais adversas situações.

DESCRIÇÃO
O nó de Borboleta, também chamado de Borboleta Alpina, é um excelente nó usado tanto na escalada, como no canyoning e montanhismo, sendo por isso um nó muito polivalente. Criar um ponto de fixação ou isolar uma secção da corda danificada por um roçamento, são duas das utilizações mais frequentes do nó de Borboleta. Existem várias formas para o executar inclusive apenas com uma mão. Apesar de não constar na lista dos nós essenciais, consideramos que dadas as suas vantagens, é um nó que vale a pena aprender e incluir no nosso arsenal de técnicas e competências.

UTILIZAÇÕES
Isolar uma secção da corda danificada. Criar um ponto de fixação na corda sem ser necessário os chicotes. Fazer um ponto intermédio de encordoamento. Equalizar uma reunião/ancoragem de dois pontos. Montar pontos de fixação numa travessia. Pode substituir o nó de oito em algumas manobras. A versão Alpine Butterfly Bend é uma excelente opção para unir cordas (um nó a abordar sob o tema – nós para união de cordas…).

VANTAGENS
É um nó simples de fazer e inspeccionar. Retira pouca resistência à corda. Pode ser traccionado tanto na direcção da corda como na perpendicular pelo seio do nó (quando é objectivo não é isolar uma secção da corda danificada). Ajustável e relativamente fácil de desfazer depois de ter estado sob tensão.

ENGLISH NAMES
Alpine Butterfly Knot, Butterfly Loop, Butterfly Knot, Lineman’s Loop, Swiss Loop.

Nó de Borboleta

DESCRIÇÃO
O nó de Oito é possivelmente o mais utilizado em ambiente de montanha. É um nó clássico do qual existem várias versões como é o caso do nó de oito pelo seio ou o nó de oito costurado, mencionado apenas duas, sendo que todas elas partem da mesma base que ensinamos aqui. Está também na base de outros nós como é o caso do “Stein”. Considerado um dos nós essenciais em montanha, é também usado em arborismo, trabalhos em altura, resgate, pioneirismo e náutica.

Podes aprender mais sobre o nó de Oito neste link.

UTILIZAÇÕES
Na escalada é por excelência o nó de encordoamento. Pode também ser usado para unir cordas (atenção à versão utilizada) e para criar pontos de ancoragem ou fixação. Consoante a versão, existem outras aplicações mais específicas como é o caso do nó de oito de orelhas ou o nó de oito direccionado. É uma opção para unir cordas para o rapel mas consideramos que o nó EDK é uma melhor escolha. No canyoning pode ser usado para montar um sistema de rapel simples ou duplo, ambos estáticos.

VANTAGENS
Simples de fazer, pode ser usado como um nó de bloqueio. Retira pouca resistência à corda. Polivalente nas utilizações e áreas de trabalho em que pode ser utilizado, graças às muitas versões que existem deste nó.

ENGLISH NAMES
Figure-of-Eight Knot, Figure-Eight Knot, Flemish Knot, Savoy.

Nó de Oito

DESCRIÇÃO
O nó Dinâmico deve o seu nome original ao guia de montanha suíço Werner Munter (Munter Hitch em inglês).  É também conhecido por nó UIAA. Muito utilizado em escalada, canyoning e montanhismo, é também usado em arborismo e trabalhos de altura. É ainda considerado um nó de recurso em situações de emergência.

UTILIZAÇÕES
Pode ser usado para fazer segurança ao escalador (uso obrigatório com um mosquetão de segurança de preferência HMS), para fazer rapel e montar sistemas dinâmicos em canyoning. Utilizado regularmente em manobras de resgate e trabalhos de carga, mesmo tendo em conta o desgaste que provoca na corda.

VANTAGENS
É um nó reversível o que permite tanto “dar” como “recolher” corda. Simples de fazer com apenas uma mão. Polivalente nas utilizações e áreas de trabalho em que pode ser utilizado. Nó de recurso na falta de um dispositivo para fazer segurança ou rapel.

ENGLISH NAMES
Munter Hitch, Italian Hitch, Crossing Hitch.

Nó Dinâmico

DESCRIÇÃO
O nó Duplo de Pescador é um nó bastante usado em montanha. Seguro e polivalente, é dos nós que retira menos resistência à corda. Dos vários usos que lhe podemos dar, unir um cordino de forma a criar um anel para um Prusik ou ponto de ancoragem natural é possivelmente dos mais frequentes.

AVISO: Apesar de ser um nó simples de fazer, é normal existirem erros na sua execução que podem dar origem a acidentes graves. É importante verificar sempre se o nó está correctamente executado.

UTILIZAÇÕES
Unir cordas, nomeadamente para o rapel (ainda que o EDK seja uma melhor opção). É ainda uma excelente escolha para unir um cordino de forma a criar um anel para nós auto-blocantes como o Prusik ou o Bachmann. Pode ser utilizado como backup (segurança) a outros nós, sendo ainda usado em áreas como arborismo, SAR e pesca.

VANTAGENS
É um nó simples de fazer e polivalente. Devemos no entanto considerar que depois de estar sujeito a uma grande tensão, é extremamente difícil de desfazer. Esta desvantagem, no caso de usarmos o nó para fazer um anel de cordino para nós auto-blocantes, acaba por ser uma vantagem.

ENGLISH NAMES
Double Fisherman’s Knot, Grapevine Knot, Double Englishman’s Knot.

Nó Duplo de Pescador

DESCRIÇÃO
O nó EDK (European Death Knot) é conhecido como nó de rapel pelo seu uso quase exclusivo nesta manobra em ambiente de escalada, canyoning e montanhismo. É também chamado de nó simples duplo ou nó de aselha. Apesar do nome em inglês e de alguma controvérsia em relação à sua resistência, com a devida atenção e correcta aplicação, é um nó bastante seguro e possivelmente a melhor escolha para unir as duas cordas do rapel. De forma a aumentar a sua segurança, podemos também optar por realizar este nó na versão EDK duplo ou EDK dobrado (de todas a mais segura).

Podes aprender mais sobre o nó EDK neste link.

UTILIZAÇÕES
Na escalada, canyoning e montanhismo é a escolha mais regular para unir as duas cordas para o rapel. Ter sempre o cuidado de deixar os chicotes com um comprimento mínimo recomendado de 30cm. Tensionar cada corda de forma individual para ajustar bem o nó.

VANTAGENS
Um dos nós mais fáceis de fazer e inspecionar. Tem um dos lados “plano”, o que faz com que dificilmente fique preso quando as cordas são recolhidas, sendo esta a grande vantagem em relação ao nó de oito ou o nó de pescador duplo para unir duas cordas para o rapel. É também fácil de desfazer, mesmo depois de estar sob tensão.

ENGLISH NAMES
Offset Overhand Bend, Flat Overhand Bend, European Death Knot, Offset Water Knot, Overhand Bend.

Nó EDK

DESCRIÇÃO
O nó Estático, também conhecido como Volta de Fiel, é um dos três nós essenciais. É um nó bastante antigo havendo referências ao mesmo já no início do século XVI. Apesar de requerer alguns cuidados (pode deslizar dependendo do tipo de corda), é um nó muito frequente na escalada, canyoning, montanhismo e também em trabalhos de pioneirismo.

UTILIZAÇÕES
Na escalada é usado principalmente para o escalador se auto segurar à reunião/ancoragem em conjunto com um mosquetão de segurança. No canyoning pode ser utilizado para montar um corrimão ou um sistema de rapel estático. Utilizado em trabalhos de pioneirismo para começar e terminar uma amarra.

VANTAGENS
Facilmente ajustável sem ser necessário desfazer o nó. Simples de fazer com uma ou as duas mãos. Bastante seguro quando ambos os lados do nó/corda estão tensionados.

ENGLISH NAMES
Clove Hitch, Double Hitch.

Nó Estático

DESCRIÇÃO
O nó Machard é um nó auto-blocante mas que ao contrário do Prusik, funciona apenas num sentido. É uma excelente opção quando temos de ascender numa corda. É executado com um cordino de 5-7mm de diâmetro unido com o nó duplo de pescador de forma a formar um anel. Existem no mercado anéis já feitos criados especificamente para este tipo de nós.

É recomendado que o diâmetro do cordino seja 60% a 80% do diâmetro da corda principal. O comprimento habitual do anel é de 60cm, sendo que é necessário aproximadamente 1,5 metros de cordino para conseguir um anel dessa dimensão.

UTILIZAÇÕES
Pode ser usado como segurança ao fazer um rapel ou para subir numa corda. Como o Prusik e outros nós auto-blocantes, é uma solução mais barata e leve em comparação com bloqueadores mecânicos.

VANTAGENS
Simples e barato. Fácil de executar, muito seguro quando submetido a cargas. Tem a vantagem de poder ser feito tanto com um cordino, como com uma cinta. É mais fácil de desbloquear que o Prusik.

Obs.: Devemos ter em atenção que o Machard funciona apenas num sentido. São precisas pelo menos três voltas na corda principal para que o nó funcione devidamente (recomendamos 4 a 5 voltas).

ENGLISH NAMES
Klemheist Knot, French Machard Knot.

Nó Machard

DESCRIÇÃO
O nó Prusik é um nó auto-blocante bi-direccional criado pelo alpinista austríaco Dr. Karl Prusik. Funciona por atrito e quando apareceu no manual de alpinismo austríaco de 1931, vinha referenciado como um nó para ascender na corda. É um nó simétrico que é executado com um cordino de 5-7mm de diâmetro unido com o nó duplo de pescador de forma a formar um anel.

É recomendado que o diâmetro do cordino seja 60% a 80% do diâmetro da corda principal. O comprimento habitual do anel é de 60cm, sendo que é necessário aproximadamente 1,5 metros de cordino para conseguir um anel dessa dimensão.

UTILIZAÇÕES
Pode ser usado em quase todos os desportos de montanha, sendo que na escalada serve normalmente como segurança ao rapel ou para subir numa corda. Pode ser utilizado para montar sistemas de desmultiplicação de forças (vantagem mecânica), seja em situações de trabalho, seja em cenários de resgate. É seguramente uma solução mais barata e leve em comparação com bloqueadores mecânicos.

VANTAGENS
Simples e barato. Fácil de executar, muito seguro quando submetido a cargas com a particularidade de funcionar nos dois sentidos (bi-direccional).

Obs.: Devemos ter em atenção que o Prusik não funciona sobre cordas geladas porque não é gerado o atrito suficiente para bloquear o nó. Após estar sob grande tensão, é normalmente difícil de libertar.

ENGLISH NAMES
Prusik Knot, Prusik Hitch.

Nó Prusik

DESCRIÇÃO
O nó Valdotain Tresse, também chamado nó Valdostano, é um nó auto-blocante muito útil em diferentes situações. Para a execução deste nó, era usado inicialmente corda dinâmica de 10mm, à qual se retirava 1 ou 2 fios da alma de forma a aumentar a capacidade de estrangulamento (uma prática não recomendada pelos fabricantes). Actualmente existem marcas que produzem o VT Prusik especificamente este fim. Alguns VT Prusiks têm ainda a vantagem de serem feitos com Technora, o que permite contornar o desgaste provocado pela fricção entre têxteis.

O atrito gerado na corda pode ser controlado pelo número de voltas (são recomendadas pelo menos três), que o VT Prusik dá à volta da corda principal. Mais voltas, mais atrito e controlo.

UTILIZAÇÕES
Ascender (embora não tão eficiente como o Prusik) e descer em cordas mesmo que estas estejam sobre tensão. Para a passagem de nós na corda do rapel. Como segurança ao rapel. Progredir num corrimão inclinado. Pode ser utilizado justamente com uma roldana para montar um sistema de polias. Muito útil em cenários de resgate. Usado também em trabalhos de arborismo.

VANTAGENS
Polivalente, eficiente e seguro (quando bem executado). Permite descer em cordas sobre tensão. Pode também ser feito com um anel de cinta. Na ausência de um VT Prusik (Bluewater / SingingRock), pode ser usado um cordino de 8mm no qual em cada ponta se fez um nó de pescador duplo. Pode ser libertado mesmo estando em tensão.

Obs.: Devemos ter muita atenção à perfeita execução do Valdotain Tresse para que este funcione devidamente. A obrigatoriedade de respeitar este pormenor, faz com que este nó seja considerado por muitos como uma técnica avançada.

ENGLISH NAMES
Valdotain Tresse, VT Prusik, VT.

Nó Valdotain Tresse