Primeiros Socorros
e Resgate

As actividades de montanha apresentam sempre um risco latente para qualquer praticante. Assimilar esta verdade absoluta pode dotar-nos de uma presença de espírito que poderá fazer a diferença na forma como abordamos e preparamos cada aventura, mas também como podemos intervir no bem estar do nosso próximo contribuindo em última instância para o salvamento de vidas.

Os primeiros socorros fazem parte dum conjunto de procedimentos que começam no planeamento de qualquer actividade e que contribuem para a nossa e a segurança de todos. Ter conhecimentos e saber como intervir numa situação de emergência, é algo que defendemos que todos os praticantes de actividades de montanha deveriam ter.

O Módulo 4 visa os conceitos de primeiros socorros, kits de emergência, SBV e resgate, para poderes estar assim melhor preparado para o pior num cenário do melhor que as montanhas têm para nos oferecer.

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“THE GREATEST DANGER IN LIFE IS NOT TO TAKE THE ADVENTURE.” — GEORGE MALLORY

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Kit de Primeiros Socorros

O kit de primeiros socorros tende a ser delegado para segundo plano quando preparamos uma actividade. No entanto a sua importância é vital e deve sempre acompanhar-nos. Aqui encontras recomendações para o teu kit tendo em conta o que deve ser essencial e elementos mais específicos por três dos principais grupos de actividades em montanha.

Não te esqueças no entanto, que o teu kit de primeiros socorros é o teu kit pelo que deve conter elementos específicos que têm a ver com as tuas próprias necessidades. Aspectos como medicação, óculos e/ou lentes de contacto extra, entre outros, são aspectos que não consideramos no kit essencial, mas que podem sem indispensáveis para ti. Tem também em atenção que o teu kit pode ser utilizado para ajudares alguém em necessidade, o que o torna ainda mais importante.

Existem muitos kits de primeiros socorros à venda no mercado, mas a não ser que tenhas optado por algum que seja específico para actividades de montanha, todos os outros por norma só servem para pequenos acidentes domésticos… não têm grande utilidade a não ser o estojo, que depois precisa de se completar!

Por isso aconselhamos que faças o teu kit de primeiros socorros baseado nas tuas próprias necessidades. Abaixo encontras uma lista do que consideramos essencial e que terá quase tudo para fazer face à maior parte dos incidentes que podem ocorrer em montanha, no entanto o nosso desejo é que nunca venhas a precisar dele.

— Luvas (nitrilo ou outras)
— Soro fisiológico (embalagens no máximo de 100cc)
— Compressas (5×5, 10×10 e 15×20)
— Ligaduras (sempre elásticas)
— Adesivo (castanho, este cola sempre)
— Desinfetante (iodopovidona [betadine] dérmico e espuma, Prontosan [spray] ou outra solução com clorexidina)
— Gase gorda (5×5 e 10×10) 2-3 de cada
— Creme fucidine (melhor que pomada que é mais difícil de espalhar)
— Manta térmica descartável
— Pinça pequena (do género que as senhoras usam para arranjar sobrancelhas) pode ser útil para retirar farpas
— Termómetro
— Sais de rehidratação (ex.: dioralyte)
— Água (0,5l, que não deve ser necessário se cada um levar a sua)
— Pensos rápidos (vários tamanhos e formas)
— Pensos impermeáveis (ex.: opsite – também vários tamanhos… até ao 8×9 ou 8×12, mais não)
— Bolsas de calor (descartável)
— Bolsas de frio (descartável e mais quantidade, pelo menos 3-4)

Se quiseres podes fazer o download aqui duma checklist para mais facilmente fazeres o teu kit de primeiros socorros.

DISPONÍVEL BREVEMENTE.

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Resgate

O resgate partilha com os primeiros-socorros e manobras SBV as mesmas duas características: todos deveríamos saber executá-las minimamente, mas nunca deveríamos precisar de as usar. Mas este cenário é uma realidade difícil de existir num contexto em que os acidentes de facto acontecem.

Em montanha, as probabilidades de existirem situações de resgate podem ser maiores pelo simples facto de estarmos num ambiente que é sem dúvida mais desafiador. Termos conhecimentos de como agir, pode ser uma mais valia não só para nós próprios, como para outros que se encontram em perigo. Devemos também perceber que qualquer cenário de resgate é diferente e engloba o factor surpresa. Este factor altera por completo aquilo que normalmente treinamos, que é ter a capacidade de antecipar e evitar situações que conduzam precisamente a uma situação de resgate.

Além disso, o resgate tem sempre particularidades específicas relacionadas com as condições do meio e a actividade em si. Tanto a escalada, como o canyoning e o montanhismo, mesmo sendo todos desportos de natureza que se desenvolvem em montanha, requerem competências de resgate distintas. Na escalada podemos destacar a verticalidade, no canyoning a componente aquática e no montanhismo a neve, só para dar alguns exemplos. Por esses motivos e também por ser um tema que necessita de muita prática, apenas pretendemos aqui descrever os diferentes cenários de resgate e qual o nosso papel em cada um deles.

Perante um cenário de resgate, podemos afirmar que o auto-resgate é a melhor situação de todas. Termos as competências e habilidade para por nós próprios sermos capazes de resolver situações que colocam em causa a nossa segurança (e muitas vezes a dos outros), é sem dúvida a mais importante forma de sermos resgatados. É este cenário de resgate que mais deveríamos treinar para reunirmos as condições necessárias para agir de forma autónoma. É também aquele que menos condiciona o grupo.

O resgate indirecto é o segundo na hierarquia de gravidade sendo o primeiro que envolve mais do que uma pessoa. Neste caso é um membro da equipa com conhecimentos para o efeito que irá proceder ao resgate. Num canyoning é frequente ser o guia desde o ponto de ancoragem a ajudar um participante que por variados motivos pode ter ficado bloqueado no rapel. Normalmente são situações simples de resolver que não condicionam o grupo mas que requerem treino e experiência.

O resgate directo requer a intervenção de uma pessoa no local do acidente. Será sempre necessário que essa pessoa desça ou suba até à zona onde a vítima está presa ou bloqueada. Apesar de ser uma situação mais complexa, os cenários neste contexto podem variar desde uma simples ajuda na realização de uma manobra à necessidade de retirar a vítima de um perigo evidente. O resgate directo tem também a particularidade de colocar a pessoa que está a efectuar o resgate em risco e condicionar a equipa ou grupo. É também necessário ter bastante treino e experiência para efectuar um resgate direto com segurança.

O resgate em equipa é o pior cenário de todos implicando que estamos perante uma situação de um acidente grave. Neste caso estamos a lidar com uma vítima traumatizada e que na maior parte das vezes requer a evacuação da mesma. Para efectuar um resgate em equipa, é necessário que todos os elementos que a compõem tenham um grande nível de conhecimento e experiência para trabalharem de forma coordenada. Este cenário não só coloca em risco vários elementos como também pode condicionar toda uma actividade. Ainda que não esteja nas nossas mãos controlar todas as circunstâncias, compete-nos a nós de forma intencional, antecipar e evitar um acidente com esta gravidade.